Em algum momento a arte deixou de ser produto da burguesia e passou a ser desenvolvida em série para as massas: Arte popular de qualidade indubitável e com requinte aristocrático, paradoxo complexo, contraditório, mas real.
A fabulosa fábrica de cores e
colagens do Pop Art teve origem na Inglaterra libertária dos idos da década de
1950 e trouxe incutida em sua verve artística todo um ideário estilístico
abrangente, capaz de catalisar e impulsionar o advento da arte pós-modernista. Não
à toa, a ideia central da Arte Pop é se aproveitar do quanto somos indubitavelmente
influenciados pela massificação da cultura capitalista e da capacidade que essa
industrialização da ideia sempre teve de nos moldar comportamentalmente, e valendo-se
desse ponto de partida não tão nobre, tornar a arte acessível a todos.
De outro prisma, do ponto de
vista estético, o Pop Art tinha a intenção primordial de mostrar ao mundo que a
arte perfeita está mais na ideia da arte, na sua concepção ampla e inovadora,
do que na própria beleza do estilo adotado e na façanha artística. A beleza e o
valor de um objeto artístico repousam serenamente na sua concepção além do seu
tempo.
Tudo começou quando, em 1952, Lawrence
Alloway, notável crítico de arte inglês, fundou com outros artistas
contemporâneos de renome na Inglaterra o Independent Group, que tinha por
objetivo massificar o acesso à arte. Em 1956, Lawrence cunhou o termo Pop Art,
para melhor definir o trabalho artístico que desenvolviam. Nesse mesmo ano, a colagem de Richard Hamilton, intitulada "O que Exatamente Torna os Lares de Hoje Tão Diferentes, Tão Atraentes?", acabou sendo um grande marco para o movimento, o que não impediu que o grupo de artistas vanguardistas se dissolvesse. Ainda assim, seus encontros e trabalhos pioneiros nessa concepção duraram até meados da década de 1960, época em que Alloway, já
morando e trabalhando nos Estados Unidos, ajudou a impulsionar e a difundir essa
forma de expressão artística pós-moderna como curador de exposições fundamentais ao movimento.
O trabalho “Popartístico”
objetivava bombardear a sociedade capitalista através da distorção crítica dos
objetos mais influentes do consumo da época, processando e fomentando signos
estéticos de cores inusitadas, amplamente massificados pela publicidade e pelo
consumo, ora valendo-se de materiais muito básicos, tais como gesso, tinta acrílica, poliéster, látex, ora miscigenando produtos de cores intensas, fluorescentes, brilhantes e vibrantes,
no intuito de reproduzir objetos do cotidiano em tamanhos variadíssimos, sempre
muito fora da sua escala natural.
Diferentemente do ocorrido na
Inglaterra, nos Estados Unidos alguns artistas já trabalhavam a concepção do
Pop Art isoladamente mesmo antes do advento real do movimento em solo
americano. Duas exposições famosas desse período, Arte 1963: novo vocabulário,
Arts Council, Filadélfia e Os novos realistas, Sidney Janis Gallery, Nova York,
já reuniam obras que se beneficiavam do material publicitário e da mídia,
pilares básicos da Arte Pop. Curiosamente, foi justo nessa época de transição
que os expoentes mundiais mais famosos desse movimento surgiram, desde Andy
Warhol, passando por Roy Lichtenstein e Claes Oldenburg, até James Rosenquist e
Tom Wesselmann. Inicialmente, não havia um estilo comum, apenas temática e
desenho simplificado, unificados por traços e cores saturadas eram
peculiaridades artísticas que se mostravam evidentemente bastante simpáticas às
singularidades abordadas na Inglaterra, cerca de oito anos antes. A concepção
de trabalhar com a distorção de objetos comuns e com uma nova observação do
cotidiano, tinha ali seus precursores, diante da anti-arte dos anteriormente
simpáticos ao dadaísmo.
Pode-se dizer que os artistas norte-americanos tiveram importância ímpar na divulgação da Arte Pop, pois ampliaram e fundamentaram muito habilmente determinados conceitos dessa nova forma de expressão,
valendo-se como referência de uma notável tradição figurativa local. Nesse
sentido, destacam-se as colagens tridimensionais de Robert Rauschenberg e as
imagens planas e emblemáticas de Jasper Johns. Todavia, quanto ao repertório
plástico muito singular, em nenhum momento se caracterizou por qualquer
subjetividade ou por algum gesto lírico-dramático, comuns ao expressionismo
abstrato.
Apesar de hoje em dia a Pop Art vir sendo muito mais utilizada como base para outras vertentes artísticas do que como expressão, ainda conta com dois notáveis representantes vivos: Mel Ramos e James Gill. Entretanto, sabe-se que Andy
Warhol foi a sua figura central. Seu trabalho brilhante e multicolorido
retratou ídolos da música popular e do cinema, como Michael Jackson, Elvis Presley,
Elizabeth Taylor, Brigitte Bardot, Marlon Brando e, sua favorita, Marilyn
Monroe. Objetivamente, Warhol gostava de mostrar o quanto personalidades
públicas eram impessoais e vazias. Constantemente valia-se de produção mecânica
e serigráfica associadas, no intuito de dissociar o sentimento da técnica com
que reproduzia tanto estes retratos, justamente para expor o lado fútil das
figuras que tão criativamente retratava, quanto os objetos produzidos para
consumo em massa, tais como Coca-Cola e Sopa Campbell.
Em terras tupiniquins, por volta dos
anos 60, houve cabal influência derivada da Pop Art norte-americana, o que
impunha uma certa ironia aos trabalhos artísticos daquela época, no entanto,
sempre mascarada por leve ambiguidade, em virtude da forte opressão provocada
pelo regime militar que vigorava. Nesse compasso, muitos artistas do período aderiram
à forma e à técnica “Popartística”, como meio de expressarem a insatisfação com
a censura, tematizando questões sociais e políticas, invariavelmente de forma
misteriosa e difícil de traduzir. Algumas exposições importantes foram
realizadas nesse período, tais como a Opinião 65, realizada no MAM, composta por 17 artistas brasileiros e 13 estrangeiros. Nomes
como Wesley Duke
Lee, Luiz Paulo Baravelli, Carlos Fajardo, Claudio Tozzi, José Roberto Aguilar e Antonio Henrique Amaral,
entre outros, participaram dessa e de outras iniciativas.
Conclusivamente, como extraímos de diversas passagens desse texto, a Arte
Pop não morreu. Muito pelo contrário, ela continua influenciando diversas
vertentes artísticas que de suas técnicas ousadas e notáveis ainda se valem. A mais conhecida no
Brasil é a Stencil Art, com artistas e trabalhos bastante significativos internacionalmente e muitos talentos em ascensão. Para finalizar, destaco o trabalho brilhante do meu grande amigo, multitalentoso, Haendel Marcone, cuja sensibilidade artística admiro muito.
E quem dera se a arte fosse pop, a Pop Art, ao menos, tenta!
E quem dera se a arte fosse pop, a Pop Art, ao menos, tenta!
Nenhum comentário:
Postar um comentário