Por que você acha que o coração é tido desde sempre como o centro das nossas emoções mais nobres? Por que Platão não teve êxito em provar que somos feitos essencialmente de racionalidade com o contraponto da fúria, do que pelo que construímos com amor? Diga-me você, mas com o seu coração, o que acha dessa tese!
O desafio é o seguinte: me diga você se conhece
alguma máquina – só vale dessas feitas pelo homem, ok!? - que tenha 350 gramas médios
e o tamanho de um punho fechado, seja movida somente a estímulos elétricos, cujos
pulsos gerados sejam incessantes e durem décadas sem qualquer pausa
(normalmente), e que mesmo quando seu ritmo não seja o adequado, ainda possa se
manter ativa e funcional por muitos e muitos anos?
Não resta dúvida de que você não conhece uma
máquina feita pela inteligência humana com essas características. Mesmo porque,
até hoje não se conseguiu reproduzir um coração de forma artificial, sem que
para tanto utilizássemos tecnologia diversa da que naturalmente se utiliza esse
intrigante órgão, dentro de nós. Inadvertidamente, por ora, imagine você que essa maravilha da
natureza, surgida há muitos bilhões de anos atrás com o advento dos seres
pluricelulares, já dotados de órgãos bem definidos, não é coisa da modernidade
e sequer foi “inventada” por qualquer ciência que o homem domine. Tanto é que haverá por aí quem diga que amebas já eram dotadas de coração primitivo.
Enfim, há na Terra, outras máquinas tão ou mais
engenhosas que ele, todavia, que com muitos menos anos de uso, se tornam não
funcionais. É fácil concluir dessas observações que temos dentro do nosso peito
a máquina mais eficiente dentre todas as já criadas na história da humanidade.
E essa nem foi criada, propriamente. Ou pelo menos,
não pelo homem!
É inacreditável. Então, vamos nos propor a um
exercício: pensemos numa pessoa que viveu 80 anos para uma expectativa decente
e com razoável qualidade de vida e que seu coração tenha batido na média a 80
pulsos por minuto nesse decorrer de tempo, algo totalmente plausível em se tratando de
uma pessoa sedentária. Por hora, ele bateu 80 vezes 60 minutos, o que corresponde
a incríveis 4800 batidas; por dia, 4800 vezes em 24 horas. Uau: 115.200 batidas
incessantes em um único dia! Uma máquina e tanto... Precisa! Em um mês, bateu
3.456.000 vezes; em um ano, 41.472.000 vezes: realmente, fantástico!
Eu imagino que algumas pessoas a essa altura estão
pensando: Ok, relógios também funcionam com pulso e contam em segundos valores
aproximados por até 5 anos, vá lá! Mas e se esse pulso frequente e constante
não fosse interrompido antes dos 80 anos e das 3.317.760.000 de batidas... o que
você pensaria disso? E se esse pulso tivesse força suficiente para bombear 85
gramas de sangue com apenas alguns miliamperes insignificantes, o que o aproxima da capacidade de bombear quase 10 mil litros
de sangue em um único dia?
Um coração que bate por mais de 41 milhões de vezes
ao ano, durante inacreditáveis mais de 80 anos, totalizando mais de 3,3 bilhões
de batidas – isso mesmo, bilhões! - é mesmo um fenômeno que se torna difícil de
ser explicado por meio do conhecimento científico. É plausível que tenha sido
por isso que o famoso Dr. Enéas Carneiro dissesse - num espasmo de
pseudociência - que a própria ciência tratou de explicar Deus por meio de seus
fenômenos inexplicáveis, com as suas probabilidades imponderáveis.
Aliás, diga-se de passagem: já há pessoas que
viveram mais de 120 anos. A francesa Jeanne Calment viveu incríveis 122 anos e
meio, até 1997, e é considerada a pessoa com documentos válidos que mais tempo
viveu na Terra. Impressionante, não!? Nesse caso, falamos de um coração que
bateu – muito provavelmente - mais de 5 bilhões de vezes durante a sua
existência.
Eu te asseguro, você não conhece nenhuma máquina
que funcione por pulsos incessantes há 122 anos e meio, sem ter apresentado
qualquer defeito irreversível ou incapacitante durante todo esse período,
depois de mais de 5 bilhões de pulsos e sem qualquer reparo! Você não conhece
uma máquina capaz de gerar seus próprios pulsos elétricos, independente de um
comando (o coração não depende do cérebro para bater), e que até mesmo fora da
sua estrutura (no caso, o corpo), consiga ainda assim funcionar, desde que haja
o adequado suporte de oxigênio. E só por isso, o transplante de coração é
possível.
Tenho certeza de que você não conhece máquina igual.
Não há como negar que o coração é o metrônomo
essencial da vida. Ele dita o ritmo da nossa existência e nos faz plenos e
adequados ao nosso tempo. Por ele não só vivemos, como amamos e somos felizes. Ou
melhor, por causa dele, amamos e somos felizes... Basta ver como somos educados dentro da "ética do coraçãozinho" desde muito pequeninos.
Diante de tantas assertivas que seriam absurdas se não tivessem sido provadas, e considerando
o fato de que o coração não foi projetado, mas complexamente configurado ao
longo da evolução da nossa espécie, até se tornar a “máquina” mais precisa, preciosa e duradoura
de que dispomos, não apenas dentro de nós, mas ao nosso redor, as tais comprovações
científicas que eram primordiais se tornam inócuas, quase descabidas.
Em tempo, é fácil concluir pelo explicitado no decorrer desse
texto a razão de ser tão latente nas pessoas a tese do Cardiocentrismo, de imaginarmos o coração como centro da alma e das emoções. Isso se deve aos poderes quase sobrenaturais de que o coração dispõe, sem que possamos atribuí-los às leis da natureza como comumente conhecemos, o que o torna mágico sob todos os aspectos.
Aliás, ainda a despeito de todas as constatações científicas feitas até esse ponto, muitas, até mesmo, pseudocientíficas - e que me perdoem os estudiosos – sem dúvida, a intenção desse texto nunca foi provar que não existe máquina igual ao nosso coração no planeta - e me refiro a essas máquinas feitas pelo homem - mas antes, ambientar o leitor para receber como uma luva o porquê de tanto enlevo na concepção do órgão que nos mantêm vivos.
Naturalmente, o objetivo é falar de um coração
poético de forma transversa, sob um ponto de vista personalíssimo, pois se o coração é tudo isso que falamos, se ele
é realmente incrível e infalível – até a morte, claro – pensem e me digam se
isso, por si só, já não é a sua própria poesia?
Sim. O coração é sistematicamente associado às
coisas mais lindas que guardamos dentro de nós. É frequentemente conectado às
emoções, por ser o único órgão que ouvimos funcionar e por ser ele mesmo, já
guardado em suas próprias definição e dimensão, uma poesia da natureza.
O Cardiocentrismo se demonstrou
verdadeiro ao longo do processo evolutivo das civilizações. Basta ver que o
primeiro homem a racionalizar o coração foi só o gênio Platão, com a sua ideia tripartite
da alma, ao idealizar que o coração seria responsável pela cólera e a coragem,
mas não necessariamente ligado às emoções mais nobres, invertendo a lógica até
então experimentada para a concepção desse órgão, o que representou, sim, um divisor
de águas importante e relevante das ideias cardiocentristas, sem entretanto,
representar qualquer ruptura para esse modelo.
Digamos que Platão ficou um tanto sozinho em suas teses...
Conclusivamente, o coração é o único órgão que ouvimos o tempo todo.
Que reage claramente aos estímulos formulados pelo nosso exterior, às emoções, às
angústias. O coração toca a música que o tema da vida pede, no andamento que a
emoção ao nosso redor sugere. É facílimo perceber que quando estamos diante de um amor, ele bate
aceleradamente, firme, sem pausas, ele nos entrega... Se, todavia, estamos apavorados,
ele também bate aceleradamente, no entanto sua firmeza muda de austeridade, ele
sofre pausas agudas, parece querer falhar...
Qualquer um sabe e é capaz de entender o seu coração, daí a sua mais recôndita e surpreendente mágica. Aliás, isso é mais latente ainda quando nos deparamos com os seres que só podem se guiar por ele: os animais.
Naturalmente, essa é somente a minha modestíssima
concepção do órgão cardíaco, com base em tudo que vi, tudo que senti e li ao
longo da minha vida sobre ele. Eu digo que o coração é a poesia de Deus que carregamos dentro
de nós, mas - lógico - haverá quem diga diferente.
Então, me diga você, mas com o seu coração, o que
acha!
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