Devemos
pensar a escola tanto quanto ela nos faz pensar: somente um processo repetitivo
de disseminação da metapedagogia é capaz de eliminar as distorções frequentes e
inevitáveis do tempo-ensino, as mesmas que um dia fizeram Einstein não gostar de estudar.
Pensei: Por que não falar um pouco de educação?
É uma ideia, claro, mas receio que seja ponto
pacífico entre gregos e troianos que o maior problema do nosso país em muitos séculos
- e nunca pensado adequadamente - é a educação. Durante anos e anos de governos
republicanos, nunca a educação foi pensada como se deveria, com prioridade de
recursos, como plano objetivo de governo.
Então, vamos começar da forma temporal, traçando um
paralelo entre a era do ensino dos países mais desenvolvidos e a nossa era do
ensino. Em qual etapa da evolução do método educacional estamos?
Pense: qual a idade dos professores que dão
aulas para o seu filho, atualmente?
Veja bem, na melhor das hipóteses, essa é a nossa
distribuição etária:
- alguns, poucos, nasceram no início da década de 1990;
- a maioria, talvez, é nascida na década de 1980;
- outros, boa parcela também, esses, os mais
veteranos, ganharam vida de meados a fins da década de 1970.
Agora, faça um exercício: Quem nasceu na década de 1990
do século anterior teve contato com tecnologia a partir da sua puberdade. Já
quem nasceu na década de 1980 desse mesmo século, talvez, algum contato já
entrando na vida adulta... E quanto a quem nasceu na década de 1970? Bem, esse
grupo teve contato com tecnologia já saindo dos vinte anos de idade.
Pois bem. A essa altura você está se perguntando
sobre o porquê dessas divagações inexoráveis, mas perceberá aonde planejo
chegar quando perceber por si só que os seus filhos têm aulas com uma maioria
de professores que são de uma geração ainda avessa à tecnologia, pessoas que
raramente se adaptam às redes sociais e à nova lógica de transmissão de conhecimento
via Wikipedias e Youtubes e disseminam, via de regra, quase comumente, a
demonização da internet. Enquanto a Nasa já planeja o envio de robôs hiperinteligentes ao espaço, nossos professores ainda nem chegaram ao ano de 1969, ou seja, na Lua!
Reparem, portanto, que curioso: a enorme parte dos
nossos doutores é da área de humanas e está no meio acadêmico. Estatísticas do Centro
de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) do IBGE, levantadas em 2013, no último
censo, demonstram que temos 7,6 doutores para cada 100 mil habitantes, enquanto
que países com índices de desenvolvimento humano mais altos, apresentam quadros
na casa de 40 doutores para a mesma amostragem, como é o caso de Portugal.
Quando refinamos esses dados, percebemos que as
áreas tecnológicas empregam apenas em torno de menos de 10% desses doutores, o
que significa dizer que uma quantidade até três vezes menor de estudantes das
áreas científicas se tornam doutores, proporcionalmente aos estudantes de humanas.
Porquanto, quando a idade média dos nossos doutores
atuais é revelada, vemos a razão: 37,4 anos. Essas pessoas tiveram pouco ou
quase nenhum contato com a tecnologia nas idades mais tenras, especialmente em
seus currículos básicos escolares, o que não impediu, no entanto, que países
com melhores aparatos educacionais sanassem essa relevante diferença
escancarada pela modernidade pela atualização constante de seus currículos e a
fomentação de políticas de acessibilidade. Quando comparamos esses países com o
Brasil, percebemos que quase não existem distorções entre os números de
doutores entre as áreas tecnológicas, científicas e humanas, obtendo-se números
extremamente próximos.
O que esses dados nos querem dizer?
Simples. Convido-te a pensar mais um pouco.
Imagine um cenário em que professores usem elementos
do cotidiano para ensinarem matemática, física, ciências, biologia e etc. Por
exemplo, alguém que use uma maquete de uma cidade para ensinar o Teorema de
Pitágoras, ou que use o Pokemon para ensinar física, Minecraft para falar de
mecânica, e por aí vai. Quantos professores seu filho tem que tomam esse tipo
de iniciativa? Talvez, um... quando muito, dois, com sorte. Mas se ele estiver
na média dos alunos brasileiros, nenhum. Por que? Porque os nossos professores
atuais são reticentes quanto às tecnologias e porque o currículo atual não lhes permite fazer isso, de modo que quando você toma conhecimento de alguém que se
vale desses artifícios para ensinar, ele acaba virando celebridade.
A conclusão é extremamente óbvia: é claro que nosso
currículo está defasadíssimo: estamos em outra era do ensino que não é a dos
países mais desenvolvidos. E é claro, também, que temos um problema na formação
dos nossos professores que precisamos sanar. E para melhorar isso, leva tempo.
Precisa mudar primeiro o currículo obrigatório. Imagino que levantar essa
discussão já é um caminho excepcional, ainda que por via transversa, por meio
de uma despropositada medida provisória, que seja! Importante é retomarmos essa
discussão para avaliarmos o que é realmente importante para os nossos filhos
aprenderem. O que essa geração espera receber de sua escola.
Modestamente, acredito que ensinar as crianças
sobre como funcionam dispositivos eletrônicos, introduzi-las na ciência da
computação para conhecerem a engenharia básica das coisas com as quais lidam o
tempo todo, assim como, promover gincanas eletrônicas, informatizadas, como
jogos e diversões em redes sociais com trocas de conhecimento e informações,
fomentar a criação de fóruns de discussão na WEB entre os alunos e grupos de
interesses, bem como atualizar o que é realmente necessário que aprendam dentre
as matérias clássicas, são componentes impossíveis de serem desconsiderados
nessa nova realidade cibernética.
Certamente, ao listarmos as matérias
imprescindíveis para a atualidade, verificaremos que muitas não constam da
grade atual e que outras que aí estão, lamentavelmente, já não são tão
imprescindíveis quanto antes. É um exercício difícil, claro, que envolve
pessoas de diversas áreas, um colegiado de profissionais de amplo gabarito na
área de educação, no entanto, com mentes abertas ao diálogo moderno e
atualizado, cujo interesse maior seja criar um aluno que pense fora dos
padrões, que seja capaz de dialogar com os problemas da vida moderna e
resolvê-los por meio de descobertas inteligentes e ousadas, aprimoradas pelo
seu conhecimento tecnológico.
O que é muito importante fazer parte desse
currículo, eu já expus, o que não é mais necessário, depende de um debate amplo
e não me cabe dizer, mesmo porque não sou um pedagogo. Sou apenas um cidadão
comum com ótima formação e uma opinião formada sobre tudo, mas que aceita e
entende o diálogo e pode ser voto vencido, sempre que o voto vencedor seja
inteligente e adequado.
O mundo precisa de gente assim e gente assim não
nasce assim. É feita. Nas escolas, principalmente.
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