O mundo evoluiu, a música se transformou, mas os ídolos continuam os mesmos: O novo POP é tão transgressor quanto antes, apenas mais eletrônico e um tanto mais arrojado. Ah, e fala francês!
David Bowie desafortunadamente se foi vitimado por um Câncer e por fim nos presenteou com o belo clip da música Lazarus, cunhado pela sua mais juvenil habilidade transgressora, que o conduziu até o fim da vida artística. Dono de imenso e respeitado legado musical, composto majoritariamente pelo seu autoral e empolgante Pop-rock - originalmente quase folk, e já nos idos dos anos 70, bastante inovador - mas que, por vezes, não deixou de representar até mesmo o aclamado rock progressivo de seu tempo, natural da cultura norte-europeia.
Aliás, de se notar que Bowie era
um excêntrico e muito típico cidadão europeu, que por afinidade cultural se enredava de tudo um pouco, e que
como todo europeu bem educado, britânico, filho de país desenvolvido, clamava
por ser ouvido na sua voz mais profana e quase profética: sua música. Bowie misturou
diversos elementos em quase toda a sua obra, e deixou sua originalidade
estampar diversos de seus singles e conseguiu ser maior do que a sua imagem ousada e chamativa.
É curioso, pois assim como Bowie, Stromae tem uma identidade visual extremada, sua performance fortemente teatral é um dos componentes importantes da sua música, mas o seu talento mais genuíno é o de recriar ideias musicais e de repaginar ritmos ultrapassados, ora unindo-os aos elementos eletrônicos de seu tempo, como no fantástico e ousado dance Alors on Dance, ora casando-os a elementos da música latina e de bordel, como no maravilhoso Tous le Memes, e do Hip-Hop, presente na incrível letra de Papaoutai, hit pelo qual é mais conhecido. Por vezes, ainda é capaz de criações mirabolantes, como no inimitável hit Formidable, em que se faz parecer um versador bêbado de rua para destrinchar sobre as mazelas dos relacionamentos na sociedade moderna. Stromae é um músico denso, versátil e bastante inteligente, enorme poeta social e exímio compositor e nem chegamos a falar de sua estupenda voz rouca.
Pois é, não bastasse ser um New David Bowie Belga com raízes africanas familiares e influências europeias, Stromae é um cantor de encher os olhos. O belga usa muito bem seu timbre forte e grave e sabe colocar as notas certas para realçar o lindo rouco que algumas regiões vocais despertam na sua emissão: Você ouve, aquilo te soa muito bom, agrada muito e você nem sabe ao certo o porque.
Diria que é um privilégio viver esse tempo em que ainda podemos desfrutar da obra póstuma do David Bowie e, paralelamente, aproveitar o surgimento de um novo popstar de recursos modernos e arrojados e, praticamente inesgotáveis.
Viva a música e que o mundo cante em francês!
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