Poucos artistas foram tão comentados nos últimos tempos, seja por sua intensa capacidade de ser festejado como catalisador de um movimento artístico complexo e ousado, seja por suas discutíveis preferências amorosas e tendências narcisistas.
E se o idealizador de uma obra artística não fosse
propriamente o seu executor?
Para a grande maioria das pessoas isso há de soar mesmo
muito estranho. Em tempo, é uma sensação de alienação ainda maior do que a que
vislumbramos pelo ponto de vista do projetista de uma casa. Quase sempre o
engenheiro ou arquiteto não constrói a casa que esquematizou. Invariavelmente, não
entra com um tijolo sequer naquela obra. Mas há uma diferença fundamental entre
o projeto de uma casa e uma obra de arte: um objeto artístico detém um conceito
que é indissociável da execução, ou ao menos, era assim que estávamos
acostumados a pensá-lo.
Nessa viagem, no entanto, há que rever toda a
concepção adquirida ao longo dos tempos sobre arte. É desse tipo de
complexidade artística que se pretende falar. Algo tratado como arte
conceitual, um modelo que se assemelha a um não-modelo e que passou a ser
amplamente difundido após o advento do Pop Art, a partir de meados da década de
60 do século passado até os tempos atuais, e o artista escolhido para introduzir
essa forma de expressão é o renomado e respeitadíssimo “projetista” de arte
Jeff Koons.
Podemos dizer que essa é uma daquelas personalidades
extraordinárias que transpiram excentricidade. E o que é mais inacreditável:
Koons não mete a mão em absolutamente nada. Suas obras são totalmente criadas
por artesãos que ele contrata e, por muitas vezes, são até mesmo compradas já
prontas, para serem modificadas por sua mente fértil a partir de modelos
preconcebidos, caso famoso da obra Michael Jackson and Bubbles, feita de
Porcelana.
É notável que Jeff Koons é um homem atento ao mundo
como se apresenta e às tendências do pós-modernismo artístico. Visionário, hábil
na captação da magnitude de um sentido artístico, de forma a reconcebê-lo,
ampliando-o sob a égide da tendência na qual se inspirou inicialmente, Koons quase
sempre tem trabalhado ao longo dos anos com a distorção da Pop Art por meio de
suas vertentes mais banais. Suas esculturas lançam um inevitável olhar
megalomaníaco sobre a atmosfera das coisas mais simples e os inacreditáveis materiais
que emprega em seus projetos são frutos de uma mente detalhista e inventiva, tratam-se
de concepções inimitáveis, carregadas de inquietude e muito originais, em especial
por emularem objetos muito mais valiosos na sua forma tradicional com precisão
inigualável. Dessa série, é bastante improvável não se encantar com a
valiosíssima “As Tulipas”, obra adquirida pelo magnata Steve Wynn por
inacreditáveis trinta e três milhões de dólares. Concebidas para serem
semelhantes àqueles balões infláveis ultrabrilhantes infantis, em formato
gigante, entretanto, feitas a partir de um aço espelhado polido muitíssimo
resistente.
Ao longo dos anos, Koons dedicou algumas séries de sua vasta coleção a essa maneira lúdica de pensar os objetos do cotidiano. Várias de suas esculturas mais aclamadas criticamente basearam sua identidade visual nesse mesmo contexto distorcido sobre coisas muito banais, a rigor, emuladas em arte de balões infláveis, configuradas a partir de materiais que ninguém nunca poderia imaginar que pudessem ser empregados com tanta engenhosidade nesses modelos artísticos, como o aço polido colorido com brilhância vítrea.
Objetivamente, é de se observar que a maneira como
Jeff Koons trabalha com o aço é a sua marca artística incomparável e seu traço
mais original, e por isso, até hoje ainda há críticos de arte renomados mundo
afora que duvidam dos recursos técnicos empregados em suas obras, o que confere
enorme valor ao seu trabalho de concepção, dados os elementos complexos com os
quais trabalha.
Desde sempre, as obras desse artista do imponderável
foram inesgotavelmente baseadas em metalinguagem – arte para falar de arte. São
esculturas, sobretudo, mas há também quadros e modelos conceituais muito
próprios, como o fantástico Cão de Flores Puppy (filhote de cão em inglês), da
raça White Highland Terrier, com incríveis 16 metros de altura, desenvolvida em
meio a um jardim palaciano, como forma de protesto por não ter participado da
Documenta de Kassel, em 1992, na Alemanha, na exposição Celebration.
Puppy acabou sendo transportado em 1997 para o Museu de Guggenheim, em Bilbao, na Espanha, para bem guardar a linda entrada do museu, mas a sua estadia permanente por lá teve origem em petição feita por um grupo de crianças de uma escola local, o que demonstra o encantamento das pessoas comuns com o modelo artístico de Koons. A estrutura dessa obra é composta por aço inoxidável e argila que contém uma irrigação interna para suprir as 70 mil flores do monumento de 15 mil toneladas. O conceito de Puppy é tão moderno e complexo que a escultura muda de cor na medida em que as flores vão se transformando, desabrochando, florescendo e morrendo, sendo renovadas duas vezes por ano num trabalho muito cuidadoso e constante.
Outro trabalho semelhante de Koons é o Split-Rocker, que obedece o mesmo conceito visual e vem rodando o mundo, sendo exposto em jardins aclamados.
Puppy acabou sendo transportado em 1997 para o Museu de Guggenheim, em Bilbao, na Espanha, para bem guardar a linda entrada do museu, mas a sua estadia permanente por lá teve origem em petição feita por um grupo de crianças de uma escola local, o que demonstra o encantamento das pessoas comuns com o modelo artístico de Koons. A estrutura dessa obra é composta por aço inoxidável e argila que contém uma irrigação interna para suprir as 70 mil flores do monumento de 15 mil toneladas. O conceito de Puppy é tão moderno e complexo que a escultura muda de cor na medida em que as flores vão se transformando, desabrochando, florescendo e morrendo, sendo renovadas duas vezes por ano num trabalho muito cuidadoso e constante.
Outro trabalho semelhante de Koons é o Split-Rocker, que obedece o mesmo conceito visual e vem rodando o mundo, sendo exposto em jardins aclamados.
De forma inigualável, variados trabalhos interessantíssimos de Koons têm despertado muito interesse artístico nos últimos anos, como a sua série de infláveis de verdade, iniciada pelo Five Double-Sided Floor Mirrors with Inflatable Flowers, obra demasiado intrigante e que lança um fantástico olhar misterioso acerca de uma nova forma de trabalhar com originalidade sobre um conceito já batido.
Há também, mais recentemente, suas esculturas acrílicas baseadas em transparências e jogos de sombras com cores vivas, absolutamente inventivas e carregadas de subjetividade, como a Coloring Book, exposta nas ruas de Londres.
Por outro lado, um homem tão inquieto e original
não poderia ter uma vida íntima menos relevante que a sua obra. Jeff Koons foi
casado por três anos com ninguém menos que o ícone mundial Pornô Cicciolina e
foi nesse período que criou sua coleção mais polêmica, a MADE IN HEAVEN, na
qual expunha de maneira despudorada sua vida sexual com a atriz pornô mais
desejada da história, valendo-se de esculturas que simulavam posições sexuais
em cera e vidro, além de recortes visuais intensos.
Conclusivamente, não há como negar que esse trabalho, bem como a repercussão de tudo que o cercou, inclusive pela exageradíssima exposição de sua vida íntima, foi o trampolim que o alçou a voos artísticos maiores, tornando-o mundialmente famoso e fazendo dele um ícone mundial de sua expressão artística, muito embora tenha servido também para depreciar sua imagem perante os colegas e críticos de arte, que o acusaram de se promover de forma espúria.
Conclusivamente, não há como negar que esse trabalho, bem como a repercussão de tudo que o cercou, inclusive pela exageradíssima exposição de sua vida íntima, foi o trampolim que o alçou a voos artísticos maiores, tornando-o mundialmente famoso e fazendo dele um ícone mundial de sua expressão artística, muito embora tenha servido também para depreciar sua imagem perante os colegas e críticos de arte, que o acusaram de se promover de forma espúria.
Certo é que, antes mesmo de Jeff Koons, muitos já diziam que o Pop Art não deveria ter limites, mas o pós-modernismo ousado e narcisista desse artista conseguiu ser muito mais livre e despudorado que o seu antecessor artístico, a ponto de causar rompantes de imposição de limites em quem sempre pregou a abertura visual absoluta.
Como se vê, a discussão acerca da censura é um mal
necessário quando o limite da arte é duvidoso, até mesmo para aqueles que
pregam a liberdade de expressão sem freios.
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