Protected by Copyscape É terminantemente proibido copiar os artigos deste blog. Leia a nossa Licença Internacional da Creative Commons. Plágio é crime e está previsto no artigo 184 do Código Penal, bem como na Lei 9610/98, que rege os Direitos Autorais no Brasil.

Jeff Koons, quando Cicciolina é a inspiração e a arte não é própria.

Poucos artistas foram tão comentados nos últimos tempos, seja por sua intensa capacidade de ser festejado como catalisador de um movimento artístico complexo e ousado, seja por suas discutíveis preferências amorosas e tendências narcisistas.


E se o idealizador de uma obra artística não fosse propriamente o seu executor?

Para a grande maioria das pessoas isso há de soar mesmo muito estranho. Em tempo, é uma sensação de alienação ainda maior do que a que vislumbramos pelo ponto de vista do projetista de uma casa. Quase sempre o engenheiro ou arquiteto não constrói a casa que esquematizou. Invariavelmente, não entra com um tijolo sequer naquela obra. Mas há uma diferença fundamental entre o projeto de uma casa e uma obra de arte: um objeto artístico detém um conceito que é indissociável da execução, ou ao menos, era assim que estávamos acostumados a pensá-lo.

Nessa viagem, no entanto, há que rever toda a concepção adquirida ao longo dos tempos sobre arte. É desse tipo de complexidade artística que se pretende falar. Algo tratado como arte conceitual, um modelo que se assemelha a um não-modelo e que passou a ser amplamente difundido após o advento do Pop Art, a partir de meados da década de 60 do século passado até os tempos atuais, e o artista escolhido para introduzir essa forma de expressão é o renomado e respeitadíssimo “projetista” de arte Jeff Koons.

Podemos dizer que essa é uma daquelas personalidades extraordinárias que transpiram excentricidade. E o que é mais inacreditável: Koons não mete a mão em absolutamente nada. Suas obras são totalmente criadas por artesãos que ele contrata e, por muitas vezes, são até mesmo compradas já prontas, para serem modificadas por sua mente fértil a partir de modelos preconcebidos, caso famoso da obra Michael Jackson and Bubbles, feita de Porcelana.


É notável que Jeff Koons é um homem atento ao mundo como se apresenta e às tendências do pós-modernismo artístico. Visionário, hábil na captação da magnitude de um sentido artístico, de forma a reconcebê-lo, ampliando-o sob a égide da tendência na qual se inspirou inicialmente, Koons quase sempre tem trabalhado ao longo dos anos com a distorção da Pop Art por meio de suas vertentes mais banais. Suas esculturas lançam um inevitável olhar megalomaníaco sobre a atmosfera das coisas mais simples e os inacreditáveis materiais que emprega em seus projetos são frutos de uma mente detalhista e inventiva, tratam-se de concepções inimitáveis, carregadas de inquietude e muito originais, em especial por emularem objetos muito mais valiosos na sua forma tradicional com precisão inigualável. Dessa série, é bastante improvável não se encantar com a valiosíssima “As Tulipas”, obra adquirida pelo magnata Steve Wynn por inacreditáveis trinta e três milhões de dólares. Concebidas para serem semelhantes àqueles balões infláveis ultrabrilhantes infantis, em formato gigante, entretanto, feitas a partir de um aço espelhado polido muitíssimo resistente.


Ao longo dos anos, Koons dedicou algumas séries de sua vasta coleção a essa maneira lúdica de pensar os objetos do cotidiano. Várias de suas esculturas mais aclamadas criticamente basearam sua identidade visual nesse mesmo contexto distorcido sobre coisas muito banais, a rigor, emuladas em arte de balões infláveis, configuradas a partir de materiais que ninguém nunca poderia imaginar que pudessem ser empregados com tanta engenhosidade nesses modelos artísticos, como o aço polido colorido com brilhância vítrea.

Objetivamente, é de se observar que a maneira como Jeff Koons trabalha com o aço é a sua marca artística incomparável e seu traço mais original, e por isso, até hoje ainda há críticos de arte renomados mundo afora que duvidam dos recursos técnicos empregados em suas obras, o que confere enorme valor ao seu trabalho de concepção, dados os elementos complexos com os quais trabalha.

Desde sempre, as obras desse artista do imponderável foram inesgotavelmente baseadas em metalinguagem – arte para falar de arte. São esculturas, sobretudo, mas há também quadros e modelos conceituais muito próprios, como o fantástico Cão de Flores Puppy (filhote de cão em inglês), da raça White Highland Terrier, com incríveis 16 metros de altura, desenvolvida em meio a um jardim palaciano, como forma de protesto por não ter participado da Documenta de Kassel, em 1992, na Alemanha, na exposição Celebration.

Puppy acabou sendo transportado em 1997 para o Museu de Guggenheim, em Bilbao, na Espanha, para bem guardar a linda entrada do museu, mas a sua estadia permanente por lá teve origem em petição feita por um grupo de crianças de uma escola local, o que demonstra o encantamento das pessoas comuns com o modelo artístico de Koons. A estrutura dessa obra é composta por aço inoxidável e argila que contém uma irrigação interna para suprir as 70 mil flores do monumento de 15 mil toneladas. O conceito de Puppy é tão moderno e complexo que a escultura muda de cor na medida em que as flores vão se transformando, desabrochando, florescendo e morrendo, sendo renovadas duas vezes por ano num trabalho muito cuidadoso e constante.

Outro trabalho semelhante de Koons é o Split-Rocker, que obedece o mesmo conceito visual e vem rodando o mundo, sendo exposto em jardins aclamados.


De forma inigualável, variados trabalhos interessantíssimos de Koons têm despertado muito interesse artístico nos últimos anos, como a sua série de infláveis de verdade, iniciada pelo Five Double-Sided Floor Mirrors with Inflatable Flowers, obra demasiado intrigante e que lança um fantástico olhar misterioso acerca de uma nova forma de trabalhar com originalidade sobre um conceito já batido.

Há também, mais recentemente, suas esculturas acrílicas baseadas em transparências e jogos de sombras com cores vivas, absolutamente inventivas e carregadas de subjetividade, como a Coloring Book, exposta nas ruas de Londres.


Por outro lado, um homem tão inquieto e original não poderia ter uma vida íntima menos relevante que a sua obra. Jeff Koons foi casado por três anos com ninguém menos que o ícone mundial Pornô Cicciolina e foi nesse período que criou sua coleção mais polêmica, a MADE IN HEAVEN, na qual expunha de maneira despudorada sua vida sexual com a atriz pornô mais desejada da história, valendo-se de esculturas que simulavam posições sexuais em cera e vidro, além de recortes visuais intensos.

Conclusivamente, não há como negar que esse trabalho, bem como a repercussão de tudo que o cercou, inclusive pela exageradíssima exposição de sua vida íntima, foi o trampolim que o alçou a voos artísticos maiores, tornando-o mundialmente famoso e fazendo dele um ícone mundial de sua expressão artística, muito embora tenha servido também para depreciar sua imagem perante os colegas e críticos de arte, que o acusaram de se promover de forma espúria.

Certo é que, antes mesmo de Jeff Koons, muitos já diziam que o Pop Art não deveria ter limites, mas o pós-modernismo ousado e narcisista desse artista conseguiu ser muito mais livre e despudorado que o seu antecessor artístico, a ponto de causar rompantes de imposição de limites em quem sempre pregou a abertura visual absoluta.

Como se vê, a discussão acerca da censura é um mal necessário quando o limite da arte é duvidoso, até mesmo para aqueles que pregam a liberdade de expressão sem freios. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário