Quando Chris Rock foi anunciado como apresentador do Oscar 2016, muita gente ficou com os dois pés atrás.
Autor, roteirista e co-produtor de Every Body Hates Chris,
no Brasil, Todo mundo odeia a Chris, cujo personagem principal é usado como
mote para contar suas peripécias de infância e adolescência, Chris é um cara de
humor ácido e tendência anti-conservadora, mas que nunca havia se submetido a
um desafio tão grandioso quanto o de administrar a fúria dos seus colegas por
não haverem indicados negros no maior prêmio da indústria mundial do Cinema.
E ele brilhou! Com peculiar desenvoltura e a já conhecidíssima acidez, fez uma das melhores aberturas de Oscar dos últimos anos. Um texto
muito rico para um roteiro muito difícil, cujo principal desafio era provar que
a questão da não indicação pela cor era totalmente desimportante, se comparada
ao problema da oportunidade que os negros americanos tinham para papéis maiores
na indústria Hollywoodiana.
Chris conseguiu arrancar belas
risadas com tiradas muito inteligentes e brincadeiras com a sua própria
condição, como fazia tão magistralmente com o seriado que leva seu nome. A um
certo ponto, fez piadas com a revolta da família Smith, dizendo que Will não
ter sido indicado por um Homem entre Gigantes era realmente injusto, mas que
também era injusto ele ter recebido vinte milhões de dólares para fazer um
filme de segunda classe. E disse que alguém que não foi convidado boicotar o
Oscar seria o mesmo que ele boicotar as calcinhas da Rihianna. Brincou até mesmo
com o presidente americano e suas sociais.
A verdade é que toda essa
polêmica é mesmo muito sem fundamento. Se pensarmos que a possibilidade que um
branco tem de ser indicado ao Oscar é diretamente proporcional ao percentual de
atores brancos atuando na indústria em relação aos negros, e aos papéis mais
relevantes que, em geral, eles têm, também em comparação aos negros. Portanto,
é óbvio que o problema passa absurdamente longe de ser a não indicação, mas faz
todo o sentido se a questão da oportunidade é lembrada. Uma coisa é pano de
fundo para a outra e serve apenas para mascarar o problema maior. Obviamente,
pessoas com menor criticidade, vão achar que se trata somente de racismo, mas
as que entendem o mundo de forma global, vão perceber claramente que o racismo
decorre da questão maior, que é a condição do negro americano, a condição do
negro no mundo.
Chris lembrou bem em seu
discurso: esse é o 88º Oscar. Será que em todas as outras 87 premiações
anteriores houve negros indicados? Ora, obviamente, em muitas dessas
premiações, não. Mas por que toda essa polêmica agora? Porque estamos num mundo
rápido e global, em que opiniões politicamente corretas voam em milésimos de
segundos, povoando redes sociais e sendo viralizadas instantaneamente por gente de todo o tipo,
sem qualquer conteúdo ou expectativa. Se trata da questão do politicamente
correto, o maldito politicamente correto. E por que cargas d’água então não se
cria um prêmio só para negros? Melhor ator negro, melhor atriz negra e por aí
vai... Se há essa diferenciação descabida entre homens e mulheres, por que não
pode haver entre negros e brancos? A resposta é extremamente óbvia, mas não é
tão simples explicá-la. Seria, se as pessoas conseguissem apenas pensar,
ponderar.
Tudo reside no politicamente
correto.
Chris Rock deu um show de ousadia
ao falar tão despojadamente sobre um tema muito difícil e sobre a sua própria
condição de negro americano, ora brincando com as questões mais complexas, as
tornando simples de entender, ora criando metáforas hilárias sobre as coisas
mais simples que as pessoas não conseguem perceber porque não enxergam um palmo
a frente de seus narizes, como quando traz ao palco suas filhas ricas para
venderem biscoitos beneficentes para atores que ele classifica como milionários,
numa clara alusão ao fato de que ninguém estaria se importando com as
indicações àquele prêmio, mas apenas com os cachês incríveis que recebiam da
indústria.
Pouca gente entendeu suas piadas rápidas e complexas, mas quem conseguiu, foi brindado por uma noite em que se conseguia ver um novo horizonte sobre as questões mais fúteis da humanidade. Ainda há homens capazes de subverter a ordem natural da idiotice humana. Algo do tipo: não saúdem os heróis de Tebas, abram os olhos para os verdadeiros construtores da Tebas, a das 7 portas, muito mal plagiando Bertolt Brecht na sua linda obra Perguntas de Um Operário Letrado.
Pouca gente entendeu suas piadas rápidas e complexas, mas quem conseguiu, foi brindado por uma noite em que se conseguia ver um novo horizonte sobre as questões mais fúteis da humanidade. Ainda há homens capazes de subverter a ordem natural da idiotice humana. Algo do tipo: não saúdem os heróis de Tebas, abram os olhos para os verdadeiros construtores da Tebas, a das 7 portas, muito mal plagiando Bertolt Brecht na sua linda obra Perguntas de Um Operário Letrado.
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