“A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que têm sido tentadas de tempos em tempos.” - Winston Churchill
José Saramago, um dos mais
importantes escritores da língua portuguesa, era ferrenho crítico do regime
democrático, não sem razão. Numa de suas frases mais cunhadas a respeito do
tema ele diz que “O grande problema do nosso
sistema democrático é que permite fazer coisas nada democráticas
democraticamente.”.
Mas por que ele tem razão!?
Pra começo de conversa, a democracia
não é apenas o sentido estrito da palavra que deriva do grego e quer dizer
governo do povo, mas também é o regime em que as participações populares elegem
seus representantes direta ou indiretamente ao poder, que será, então, dividido
de tal modo a que as diversas partes dessas representações populares possam expressar
os anseios fidedignos dos seus eleitores, espelhando-os por amostragem fiel através
da proporção demográfica.
A título de conhecimento, o
regime democrático pode adotar dois sistemas de governo: Presidencialista e Parlamentarista.
Em ambos os casos, o poder eletivo emana do povo essencialmente, entretanto, no
Presidencialismo, o povo elege os representantes para os poderes legislativo e
executivo, do que decorre que o chefe do governo é também chefe do estado. De
outro modo, no Parlamentarismo, as eleições ocorrem somente para o poder
legislativo, ao qual ficará incumbida a formação de um colegiado para compor as
diversas esferas do executivo de forma indireta. Por essa razão, somente esse
tipo de sistema pode coexistir com Monarquias, já que o Monarca é o chefe de estado,
enquanto que um primeiro-ministro assume as vezes de chefe de governo.
Decorre que a democracia tem tudo
para ser muito bonita e extremamente funcional em países com Índices de
Desenvolvimento Humano altos, mas pode ser um vergonhoso tiro pela culatra em
países cujas questões populares tendem a ser resolvidas com simples escambos
sociais, como bolsas e presentes. Denis Diderot dizia brilhantemente que “Ter escravos não é nada, mas o que se torna
intolerável é ter escravos chamando-lhes cidadãos.”. É basicamente nisso
que se transformou a democracia nos países subdesenvolvidos: mecanismo de freio
de tensões sociais, forma de fazer o povo acreditar que quem manda é ele.
Nunca é demais lembrar que a ideia
distorcida da democracia foi uma das armas mais usadas para a implementação dos
regimes totalitários na Europa, na medida em que ambientes em efervescência
social eram manipulados e se transformavam em grupos de revoltas populares que
fomentavam a queda dos regimes em crise, dando base ao crescimento de grupos paramilitares.
A democracia surgiu quando,
devido ao facto de que todos são iguais em certo sentido, acreditou-se que
todos fossem absolutamente iguais entre si. – com esse pensamento de
Aristóteles podemos chegar à conclusão de que a democracia é um enorme equívoco
enquanto regime de governo, pois pretende colocar no mesmo patamar cabeças
pensantes e descabeçados, maior causa das distorções claras do regime. O
brilhante Jorge Luís Borges uma vez disse que “A democracia é um erro estatístico, porque na democracia decide a maioria
e a maioria é formada de imbecis.”. Nada pode ser mais apropriado.
Para aqueles que acreditam que a
democracia livra das amarras, é interessantíssima a leitura de Charles
Bukowski: “A diferença entre uma democracia e uma ditadura consiste em que numa
democracia se pode votar antes de obedecer às ordens.”. Pelo sim, pelo não, é
lógico que a democracia é menos pior que uma ditadura, e foi isso que ele quis
dizer, o que não quer dizer que ela é justa, porque ela apenas te dá a
possibilidade de escolher quem manda em você, o que, convenhamos, não é pouco
num mundo capitalista, mas também não é a carta que lhe confere o poder, como
bem nos lembrou nosso sábio poeta Carlos Drummond de Andrade ao dizer que “a democracia é a forma de governo em que o
povo imagina estar no poder.”. Enfim, o poder continua nas mãos de quem
deveria estar em qualquer circunstância: do poderoso!
Entretanto, considerando todas as
variáveis, a que melhor descreve o ambiente democrático é a que observa a
liberdade de expressão: essa, sim, é a maior conquista, mesmo nos países
paupérrimos, porque de uma forma ou de outra, possibilita a revolta
popular, maior instrumento de melhoria social de que se tem notícia na história
da humanidade.
Conclusivamente, o desafio da América Latina é
entender que a única forma de tomar para si o ambiente democrático e fazer as
vezes de representado é obtendo cultura. A democracia só é possível onde haja
gente capaz de escolher.
Ainda assim, evidentemente, liberdade de
expressão é tudo mesmo, e também por isso Winston Churchill, um dos maiores estadistas
modernos, senão o maior, sempre teve toda a razão, pois “A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que têm
sido tentadas de tempos em tempos.”.
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