Em que momento da nossa história de colonização exploratória passamos a enxergar Portugal não mais como o nosso vilão, mas como nosso pai-irmão?
Podemos dizer que o Brasil vive
seu pior momento político da história, sem qualquer sombra de dúvida.
Os mais desavisados deverão
querer comparar a ampla crise institucional que vivemos nesse
presente inglório com a ausência de democracia de outrora. Mas não, não há que
se falar em qualquer comparação com aquela Ditadura, mesmo a despeito de saber
que o estado opressor pode ser infinitamente pior do que o que te rouba e onera.
A explicação não é um bicho de sete cabeças: eram momentos históricos muito
diferentes e naquele período o mundo subdesenvolvido era oprimido pelas mesmas
chagas. Não estávamos abandonados no caos. Hoje caminhamos praticamente
sozinhos para o abismo, sem paradigmas, nem precedentes.
Afinal, pense: quantas vezes você
já presenciou um dos maiores incentivadores e também pivô de um momento histórico emblemático
que culminou com o fim de um regime político espúrio e início de outro, baseado
em democracia, sair do nada absoluto, se tornar Presidente da República na própria
democracia que ajudou a construir, nos termos da Constituição que ajudou a
escrever, e depois, o maior ladrão da história do mesmo país, fazendo inveja ao
bando de Ali Babá?
O Gabão não deve ter
experimentado honra semelhante!
Além do mais, o mundo vai infante
para fora do eixo centralizador. A ideia catalisadora é transformar os
governos, cada vez mais, em representações fieis dos povos que os elegem. O
parlamentarismo ganhou vez e voz e a democracia passou a ser a palavra de ordem.
Países desenvolvidos lutam para educar cada vez mais os seus cidadãos,
principalmente, incutindo-lhes o senso amplo de comunidade.
Política virou questão de escola.
No Brasil, virou questão de Polícia.
O evidente equívoco da ascensão
esquerdista com a sua política de concessões desmedidas, sem quaisquer contrapartidas,
abalou sobremaneira o sistema monetário, no sentido em que pressionou a classe
média a contribuir cada vez mais para a manutenção de um novo estatus social
precário dos mais pobres. Não que isso fosse de todo injusto, não se trataria
disso, houvéssemos experimentada a revolução social normalmente pretendida
nesses sistemas, mas é que a nossa classe média só decaiu. Fomos nivelados por
baixo: os mais pobres não estão mais ricos, mas sim, ascenderam à classe média
porque esta descendeu astronomicamente à classe mais pobre.
O Romário tem uma frase bem
cunhada em que diz que o Futebol está nivelado por baixo. No Brasil, não é só o
futebol, as classes sociais também estão.
E por outro lado, em outra ponta,
esse tipo de abordagem social antieconômica só foi capaz de induzir à abertura desmedida
de crédito, o que se traduziu ao longo do tempo em políticas extremamente
conservadoras de juros: Triste fim do Policarpo Quaresma da economia
triunfante! É uma bola de neve de Ushuaia (Tierra del Fuego) nos seus piores
tempos de inverno austral, só que no cenário pitoresco do nosso verão circense,
já que os inteligentíssimos Ministros da Fazenda dos últimos 14 anos, foram todos, sem exceção, obrigados
a controlar a dívida pública sob o viés tragicômico da especulação.
Como se não bastasse, voltamos às Capitanias Hereditárias na política da boa vizinhança desenvolvida ao longo dos anos Petistas: estatais e cargos importantíssimos do governo fatiados, loteados, entregues nas mãos de grupos políticos e facções com todo tipo de interesses, menos os necessários à gestão do negócio em que se envolviam. Em muitos casos, até de parentes mesmo, como no caso dos Odebrecht.
Por quanto tempo os mais pobres e
os menos cultos, nem sempre os mesmos, mas sempre maioria absoluta nesse país, aprovarão com louvor esse sistema
insano que um dia já chamamos de populismo?
E você se pergunta no que
Portugal tem a ver com isso?
A raiz da nossa triste história
de autodestruição repousa em Portugal. O país é a mola-mestra que nos fez colônia exploratória. E que
exploração! Nos mal "impulsionou", alguém já disse. Nos oprimiu e nos povoou com o que havia de pior no mundo em todos aqueles momentos históricos em que esteve presente: primeiro trouxe seus marginais para bem desafogá-los pelas
terras de Vera Cruz, depois nos encheu de escravos rebeldes e os incitou contra
os Índios locais, que foram morrendo e se tornando humanizados, catequizados (com z mesmo), adequados às vilanias da Igreja da época.
Os escravos, coitados, valem um
capítulo especial à parte, já que claro, não tiveram a menor culpa. Quando se
leva pessoas à força para outros lugares e as mantêm reféns de sua própria
condição humana, de sua indignidade, é certo que serão revoltadas. Além do
mais, ninguém dá livros para escravos, do que decorre que eram desde sempre
incultos e essa foi a herança que deixaram pelas gerações que se seguiram. Ao
ver o modelo social em que nos encontramos já a essa altura, você talvez pense
que somos todos muito preconceituosos, mas na verdade, isso vem de 516 anos,
vem de toda uma história cíclica de pais e filhos sem estudo e que viveram
sempre às margens da sociedade classista. Lógico que isso culminaria numa
segregação por outras muitas gerações.
De outro modo, o que se moldou, da forma como aí está, enfim, não se resolve com cotas
raciais. Longe disso. Se resolve, sim, com "oportunização" coletiva em igualdade
de condições, ao longo do tempo, aplicando políticas sociais em maior ou menor
grau, de acordo com a carga necessária em cada área das cidades, partindo do
interior para os centros, já que esse é o movimento migratório experimentado no
mundo.
O que está errado é que se dá oportunidades e oportunidades não devem ser dadas, devem ser criadas. No mundo todo é assim e não haverá de ser diferente no Brasil.
Em tempo, há que se dizer também que Portugal não deixou pedra sobre
pedra. Em suas descobertas, nada ficou por aqui. Nos restou, muitos anos
depois, uma independência falida e uma dívida externa monstruosa com nosso
financiador de outrora: A Inglaterra. Alguns pouquíssimos homens dignos e preparados que
fossem capazes de criar uma república quase 67 anos depois e um lastro enorme
de segregados partindo para os centros urbanos em busca de sobrevivência.
O resto da história sabemos aonde dá!
Favelização, subempregos e
incapacidade de mão-de-obra qualificada, industrialização tardia e revoltas
populares intensas.
Vargas veio, mas nem se sabe ao certo se deveria mesmo ter vindo!
Certo é que sem Portugal
existiríamos. Isso é certo. De que forma, não é possível saber. Mas não haveria
de ser pior do que a forma que nos deu à luz... não, não mesmo!
Mas que diabos vieram fazer por aqui!?
Oxalá tivéssemos muito mais chances de
sermos (infinitivo flexionado pela vontade do agente da ação) os Estados Unidos da América do que os Estados Unidos da América mesmo! Destino inglório, nos restou a angústia de sermos (infinitivo flexionado pela decepção do agente da ação) os Estados Desunidos da América, vulgo Brasil!
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