Educação. O Brasil é um país deseducado, com uma
população de analfabetos funcionais que beira o caos escalafobético das mais de
setenta casas percentuais, de certo. Recentemente, pesquisa nas ruas indagava o
brasileiro acerca das atribuições do Banco Central e, inacreditavelmente, a
quase totalidade das pessoas não tinha ideia de qual seriam as funções do
gerente maior de nossas operações financeiras, dentro e fora de nossas
fronteiras.
Não pensem que isso não é alarmante. A bem da
verdade, são dados desesperadores se tomarmos como referência os últimos
indicadores econômicos do FMI para o ano de 2016, cujo déficit orçamentário já se
especula na casa dos muito prováveis duzentos bilhões de reais, algo
inigualável no mundo moderno para um país com as proporções do nosso e por que
não dizer, vergonhoso, diante de um governo que tinha como meta acabar com a
pobreza e cujo carro-chefe era a redistribuição de renda através de bolsas
populistas. E nem se julguem os não-avanços sociais. Inevitavelmente, chegaremos
à desoladora constatação de que uma gama absurda da população não é capaz de
explicar o que o Banco Central representa para o nosso país, disso decorre que nunca
poderão saber que estão sendo roubadas. Como saberão o que é um déficit, uma
dívida pública, e qual a importância disso tudo para o país!? Seria trágico se
não fosse cômico, mas é piada de tão mau gosto, de tão negro humor, que sequer
se consegue rir sem ter dor de estômago.
De outro lado, a absurda e combalida polêmica com
relação ao fim do Ministério da Cultura, que se diga de passagem, nunca serviu
pra nada no Brasil. Ora, se não há educação de base, por que raios haveríamos
de cuidar da cultura que não existe?
É demasiado sensato e parece até óbvio demais que
esse Ministério era apenas uma maneira de comprar apoio pesado da indústria da
opinião. Tanto é que a gama mais significativa de pessoas que é contra o seu fim
sequer mora no país. Se trata de uma casta social de alto gabarito, ricos que frequentam
páginas sociais e fizeram a sua fortuna às custas de leis de incentivo, tais
como a Rouanet, ou que vivem às expensas de parasitar a captação de recursos federais
para seus próximos projetos cinematográficos, literários ou musicais, sejam lá
quais forem. Gente cuja extirpe é “branca” e que protesta pela causa burguesa
num óbvio ululante que beira o enfadonho, mas que vende a ideia de que a
cultura pela qual brigam é primordial ao nosso país, patrimônio que se sustenta
por si só, mais do que a própria educação à qual foi fundida com fins
estratégicos, mais do que a saúde e a segurança, já que há anos não moram aqui.
A burguesia fede. Cazuza, que era burguês, sabia
bem.
Por assim dizer, há uma escancarada verdade maior
sobre isso tudo. O Brasil era, até bem poucos dias atrás, o segundo país com maior
número de ministérios do mundo, com inacreditáveis trinta e nove gabinetes,
vencendo apenas o paupérrimo e inexpressivo Gabão, com quarenta e um. Essa
realidade é reflexo claro da política de alianças partidárias criminosas praticada
pelo PT para se perpetuar no poder, quadrilhas que o obrigaram, ao longo de
quatorze anos, a conceder todos os tipos de cargos e benesses, primeiro em
ministérios, aos líderes partidários do alto escalão de seus conglomerados de
apoio, depois, em menor grau, nas estatais e secretarias, aos correligionários
que sustentavam a complexa rede de poderes locais, até os mais inexpressivos
gabinetes de confins, se traduzindo em mais de cento e trinta mil cargos
comissionados sem concurso espalhados por todo o território brasileiro,
política espúria que, obviamente, impedia correção salarial decente aos cargos oriundos
de concursos públicos, moralmente corretos e adequados ao funcionamento de
qualquer máquina estatal.
Não sem razão estamos nessa situação econômica
vexatória e extremamente delicada, uma década perdida de PIB, sem crescimento
algum, com inflação já na casa dos dois dígitos. É só olhar para os EUA para
perceber que estamos redondamente enganados com a nossa forma de administrar as
finanças públicas, por lá eram dezenove ministérios apenas, salvo engano.
O Brasil merece uma nova dinâmica social, mas sem um
povo educado, que compreenda do que se trata política e como as coisas
funcionam na democracia, fica verdadeiramente muito difícil de reverter esse
quadro. Não há mudança sem mexer em leis, sem mexer na Constituição, no sistema
político-partidário.
O Brasil não precisa de Ministério da Cultura,
porque o Brasil não é culto. O Brasil precisa de alguém que acabe com cargos e
moralize a administração pública em prol dos interesses do povo.
O Brasil precisa de educação, pra entender que
cultura é patrimônio social e não vem de berço. E só depois, precisará de um
Ministério que cuide disso. E só depois conseguirá lutar contra quem ache que
num governo sólido precisa haver cotas para mulheres e para negros e não, gente
competente independentemente de raça e sexo.
Primeiro, vamos curar o Brasil, vamos vaciná-lo com
educação e, por fim, dar-lhe de novo o sorvete da Cultura, sem medo de resfriá-lo!
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