Os excelentes Projetos de
Melhoria Institucional que vêm sendo implementados nos Serviços Públicos mundo
afora, em especial na França e em Portugal, através de convênios firmados com
grandes grupos internacionais certificadores de qualidade, quase sempre por intermédio direto
das esferas governamentais nas repartições mais descentralizadas, e geralmente
relacionados a grandes mudanças operacionais, não deixam de ser uma iniciativa ousada
e primordial para o sucesso da operacionalização do equipamento estatal, e em algum momento, deverão ultrapassar fronteiras e desembarcar do lado de cá do
Equador.
Que o diga o Governo do Estado
do Rio de Janeiro. É de se levar em consideração que houve, há alguns anos
atrás, um desses Processos de Acreditação no Brasil por intermédio deste ente.
Na ocasião, em meados do ano de 2003, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de
Janeiro submeteu os Hospitais de sua rede a um sistema de avaliação e certificação com
proposições de mudanças estruturais severas por excelência. O mesmo modelo de gerência já havia
sido testado com sucesso em 2002, em alguns hospitais do Distrito Federal. Apesar
de ter surgido em um momento ímpar no que dizia respeito à ânsia por mudanças (refletido,
até mesmo, no cotidiano dos próprios Servidores daquela esfera), o processo em
si não trazia consigo nenhum incentivo ou atrativo maior, e em que pese o
mérito de ter proposto àquela altura um tão alto nível de excelência na
Prestação de Serviços Médicos Públicos, quase chegou sem pedir licença,
despreocupado com a ideia fundamental de que talvez não houvesse
disponibilidade ou desejo funcional dos servidores das repartições questionadas
em sua amplitude qualitativa de elaborar um plano real de melhorias internas.
Antes de mais nada, sempre
houve um considerável desnível de interesses político-administrativos nessas
unidades que, somado a uma considerável incongruência externa, viriam a influenciar muito fortemente na
montagem de eventuais grupos facilitadores apropriados para a fluência desses
processos certificadores de qualidade. Diante do modelo administrativo do equipamento público
do nosso país, sempre se entendeu que a maioria dos participantes escalados para esses
tipos de iniciativas são membros políticos do próprio corpo gestor local, já de
antemão, antipático àquele novo modelo que, aos seus olhos, é sempre impositivo.
Não havendo voluntariado real, os que se aventurem por melhorais se vêem fortemente
isolados e incapazes de influenciar seu meio, e acabam se alienando no teor de
seus melhores propósitos, tornando-se muito mais espectadores do que qualquer
outra coisa.
Ao fim de tudo, podemos
perceber claramente que os processos dessa natureza ficam resumidos a muitas
queixas, desarrazoado senso crítico e desmotivação ampla, alavancados em parte
por uma seqüência desastrosa de tentativas de mudança. E muito embora haja quem
se prontifique, fica difícil encontrar eco em tão pouca armada representativa.
Considera-se que os gestores, que se veem afundados em incêndios institucionais
intermináveis, mantêm-se isolados também como forma de represália ao não
atendimento de suas motivações reais, ora entendendo como desnecessárias estas iniciativas
que creem se tratar de consultorias, e se vendo contrariados em seus interesses
políticos internos, submetem o processo de acreditação ao acharcamento natural
da demagogia comum que molda a armadura dos descrentes e que suplanta a força
dos voluntariosos: passa a ser Desacreditação.
Naturalmente, diante dessa nova
rodada mundial de processos de Acreditação, há os especialistas em Gestão
Pública que entendam que se trata de questão de tempo para que essas
instituições altamente gabaritadas adentrem novamente nosso território, em
busca de fomentar a padronização mundial de seus modelos administrativos
perfeitos e arrojados. E, em certa medida, é preciso mesmo fomentar o modelo operacional
de que se valem essas instituições de acreditação administrativa, vê-lo de uma
forma mais democrática. Seria o caso, talvez, de fazê-los fluir da base para o
topo, como iniciativa singular das Unidades mais descentralizadas, diante de
uma conjuntura interna adequada para a preparação da mudança, esta sim,
proporcionada, motivada e sustentada pelas Esferas Superiores, através da
correta alocação de recursos financeiros e humanos, guiado por cursos de
capacitação internos e externos, congressos e foros de discussão mais amplos e
direcionados à busca do interesse real, capazes de capilarizar e moldar
adequadamente os contatos interinstitucionais, contaminando criticamente as
lideranças envolvidas, de modo a que as resistências pudessem ser filtradas
logo no início, produzindo um corpo concreto para o desejo de mudança e uma
história para as conquistas, além de um sem-número de voluntários mais
dialéticos e preparados, o que de fato já é pensar a qualidade sob o ângulo da
qualidade, que para ser mantida deve – ademais - ser entendida como um ciclo
pedagógico, administrativo e psicológico em que se enquadrem, não só os
funcionários, mas também o Corpo Gestor das unidades envolvidas.
O que se pretende dizer é que
acreditar modelos administrativos de excelência começa na base e não, no topo.
Aliás, não se tem registro na
história de mudança estrutural, em qualquer esfera, sem que a iniciativa
tivesse partido de uma suposta casta menor, diante de uma singularidade
conjuntural, e tomado corpo na promoção ocasional que as circunstâncias
imprimiram, quase que despropositadamente – é bem verdade - muito embora
adequada ao clamor político da situação e alavancada por lideranças fiéis aos
seus propósitos.
Isto posto, é fácil perceber que a
conduta da Secretaria de Saúde foi, naquele momento, autoritária, ao quase que
impor a participação nesse processo, o que por si só já comprometeu a força da
mudança devido ao acometimento político que causou internamente.
Aliás, nunca é demais lembrar
que representatividade maiúscula se conquista através de adequação às conjunturas: precisa antes ser moldada pela pedagogia institucional e atender à psicologia
frenética do cotidiano das cabeças pensantes do sistema, sendo inteligente ao
absorver os aspectos mais relevantes do processo e impô-los ao sistema.
Portanto basta pensá-la, antes de executá-la. Um grupo que se faz representar
com inteligência, buscando os contatos certos nas horas apropriadas e criando
normas impessoais, contratadas socialmente e concordadas por quem de direito,
somente questionáveis do ponto de vista do embasamento administrativo, de forma
a que se tornem cotidianas, é capaz de conseguir qualquer mínima mudança
estrutural. A política institucionalmente se baseia nisso, e é fato. O
princípio que guia essa lógica é simples: Uma andorinha não faz verão; Duas
também não o fazem, mas pelo menos se aproximam mais dessa realidade.
Por fim, significativamente,
fica como ensinamento fundamental para os gestores do topo da pirâmide
governamental que esse processo certificatório é imutável e impossível de ser
freado, já que há toda uma pressão internacional para a adequação do modelo
administrativo público a um padrão de excelência mundial, em todas as áreas do equipamento público. Diante dessas
assertivas incontestáveis, se faz premente assegurar unidades mais
descentralizadas com vistas no novo sistema institucional que será proposto, desde já as
tornando menos politizadas e mais "meritocratizadas".
O lema agora é: creditar a nova
onda de Acreditação que veremos em breve no Brasil e tornar nossas instituições
melhores e mais próximas do melhor modelo mundial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário