Não resta a menor dúvida: a Guerra Civil do Capitão
América é infinitamente superior à briguinha de escola do Batman com o Super-homem.
Pra começar, há um motivo decente, por assim dizer.
Algo para além da emissão do simples juízo pessoal infantil de um Batman que
volta a ser amiguinho após ouvir que a mãe do coleguinha também se chama Martha,
e há uma considerável dose de lucidez num Tony Stark que tenta salvar o mundo
do efeito estrondoso das incríveis destruições que os super-heróis de
quadrinhos promovem sem querer no mundo que tentam – só tentam – consertar. Enfim, bem
mais do que o ego inflado do limitado Batman de Ben Affleck a considerar a sua
Gotham terra arrasada após as incursões pitorescas do Super-homem, e que
precisa se superpreparar, se superproduzir, para quem sabe, poder chegar a um
dia dar conta do megapoderoso Kal-El. Apenas enfadonho!
Concretamente, o que sabemos e nos é de enorme
valia para a avaliação do ótimo roteiro de Christopher
Markus e Stephen McFeely
é que a guerra civil é de verdade, pelo menos. Pudera... Vá lá: haverá quem diga
que alguns elementos do filme sejam hiperinflados, como a introdução daquele
carinha sem carisma que cria meticulosas e ardilosas armadilhas para os
superamigos – que, diga-se de passagem, nunca deixam de ser superamigos - e
ainda liberta o tal do antipático Soldado Invernal, pra depois dizer que há,
pelo menos, mais cinco dele soltos por aí. Não saberia dizer se alguém lembra do nome dele no filme!
Em toada razoavelmente parecida, o que também
parece não se explicar muito bem, nem pelos argumentos de que já dispomos e que
conhecemos dos quadrinhos, é a caríssima amizade entre o Capitão América e o esquisito Soldado Invernal, a ponto de colocar em xeque os Vingadores. Sinceramente, não soa
muito crível. Por outro lado, aparenta ser mais uma daquelas incursões de
roteiro que têm a única intenção de produzir mais um motivo, dentre tantos, ainda
que vão, para que a relação entre os heróis seja abalada e isso seja razoável.
Outro ponto muito legal e que merece grande
destaque é a excelente escolha do Homem Aranha, ou como o Tony Stark diz:
Arainha. A entrada dele é triunfal e lembra em muito a dinâmica dos quadrinhos
de que os fãs mais antigos tanto são saudosos. Além de tudo, por ser um menino
fazendo as vezes de um herói que recém descobre seus superpoderes e que, para
além de lutar por um dos lados, admira os combatentes de ambos os lados.
Destaque especialíssimo para o combate entre ele e o Capitão América,
irreverente e leve, com ótimas tiradas, certamente, um dos pontos altos do filme.
Lógico que não podemos esquecer do desconhecido
Homem Formiga. Sua inserção na trama também é um ponto alto. Seus poderes são
bastante inusitados e suas entradas cabem perfeitamente no roteiro do filme. O
fato de ser um herói desconhecido, até mesmo entre os heróis, sinaliza a ideia de
inserção de uma veia cômica num roteiro de grandes ações, o que contrasta de
forma bastante irreverente com o tamanho da guerra em questão.
Aliás, nem tudo são flores. Infelizmente, Thor e
Hulk não fazem parte desse elenco estelar, o que pode ser
considerada uma heresia do ponto de vista da produção. Todavia, a montagem do
filme é tão surpreendente que quase não se sente falta de ambos no decorrer da
história. Mesmo assim, para aqueles que acreditam em finais felizes, a ideia dos
Diretores Anthony e Joe Russo é de que na continuação da trama, ambos estejam
presentes, o que reforça em muito a tese de que o que os afastou dessa versão
foi a altíssima pedida salarial de ambos os atores, ou seja, dificuldades mais
do que claras nos acertos financeiros, problemas que os produtores também
enfrentaram com outros atores, como Don Cheadle, mas resolveram a contento.
E por falar em Don Cheadle: o que foi aquela queda? Claro que a ideia era incitar o ódio do Stark, e funcionou bem nos termos do roteiro, mas poderiam usar um recurso menos fantástico, mais crível. Enfim, não soou muito realístico, se é que pode haver realidade em um filme de super-heróis. Bem, quem curte, entendeu!
Conclusivamente, se trata de um filme primoroso. Um roteiro ótimo
para a sua proposta, com ação do início ao fim e muito empolgante, com cenas
que não são nada previsíveis e ideias bastante ousadas para os padrões da
Marvel. Quanto à execução, a todo momento fica claro que apesar de estarem em uma guerra, todos
continuam amigos, e esse contraste aparentemente fútil é justo o que dá a
dimensão exata da proposta: o fato de que se trata do fantástico mundo
dos super-heróis, mundo que nenhum vilão poderá destruir, somente, abalar. Não deixa de ser uma maneira muito especial de preparar as
próximas gerações para conhecerem os heróis de seus pais e avós, o que é torna
o filme ainda mais grandioso.
Quem viu Capitão América: Guerra Civil saiu com algumas
certezas inegociáveis:
1 - A continuação tem que vir logo;
2 - Precisa comprar seu novo ingresso para a nova filmagem ainda na pré-venda;
3 - O filme tem tudo para ser o "Mad Max: Estrada da Fúria" do próximo Oscar;
4 - A DC Comics precisa melhorar muito pra estar à altura da Marvel nas
adaptações de seus Super-heróis.
Para finalizar, uma notícia muito surpreendente.
As declarações de Joe Russo, um dos diretores da trama, ao Collider, sobre a
entrada de um personagem Gay ao universo da Marvel:
“Acho que as chances
são fortes. Quero dizer, é uma incumbência para nós, como contadores de
histórias que estão fazendo filmes de sucesso, de fazer isso com a maior
diversidade possível. É triste como Hollywood fica para trás das outras
indústrias de forma tão significante, primeiro porque você imagina que terá uma
indústria sempre se desenvolvendo, e, segundo, por ser uma indústria com tanta
visibilidade. Então, acho que é importante que nós continuemos forçando por
mais diversidade em todas as frentes possíveis, porque aí a narrativa fica mais
interessante, mais rica e mais verdadeira.
Há uma filosofia na
Marvel, que o sucesso faz correr riscos ser algo mais fácil. Existem muitas
ideias pouco convencionais em Guerra
Civil em termos de expectativas sobre um
filme de super-heróis, mas acho que conseguimos fazer isso porque O Soldado Invernal funcionou e a Marvel tem funcionado de um modo geral,
então tem muito mais ousadia em termos do que você pode fazer e até onde
consegue ir. Acho que isso é muito esperançoso para nós continuarmos cada vez
mais ousados nas nossas escolhas”.
Pelo visto, não é só o mundo real que evolui para
se tornar simpático às diferentes abordagens sexuais. Os super-heróis, também!
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