Existem inúmeras razões que nos conduzem a produzir dentro de nós o melhor dos sentimentos por coisas e por pessoas, mas a verdade é que o amor é a própria constatação de que somos seres essencialmente puros e moldados para o bem: somos a metapoesia de Deus.
Certamente, poderemos encontrar inúmeras respostas em diferentes áreas de conhecimento para essa complexa questão, mas segundo a conceituadíssima antropóloga
da Universidade Rutgers, EUA, autora do livro Why we love? - the nature and
chemistry of romantic love (“Por que amamos? - a natureza e a química do amor
romântico”), Helen Fisher, a
resposta é tão mais simples quanto razoável, comparativamente a todas as outras
explicações: “Somos biologicamente programados
para a aventura de amar”. Helen sustenta a tese de que para os humanos, a
necessidade de procriar é tão intensa quanto a de se alimentar ou dormir, o que
desencadeia no cérebro a energia dramática necessária para abastecer quatro
sentimentos muito básicos em nós: paixão, obsessão, alegria e ciúme.
Partindo do pressuposto de que Helen tenha toda a razão, ainda assim, poderíamos, por outro lado, citar inúmeras abordagens sobre o tema, de cada uma das áreas científicas ou não de que se tem notícia. Enfim, todos querem saber o porquê de amarmos e todos encontram explicações muito plausíveis em sua própria área de conhecimento. Entretanto, e se explicações lógicas não pudessem desmistificar algo que é ilógico? Seria essa a conclusão mais sólida a se admitir dentre tantas hipóteses científicas?
Partindo do pressuposto de que Helen tenha toda a razão, ainda assim, poderíamos, por outro lado, citar inúmeras abordagens sobre o tema, de cada uma das áreas científicas ou não de que se tem notícia. Enfim, todos querem saber o porquê de amarmos e todos encontram explicações muito plausíveis em sua própria área de conhecimento. Entretanto, e se explicações lógicas não pudessem desmistificar algo que é ilógico? Seria essa a conclusão mais sólida a se admitir dentre tantas hipóteses científicas?
Sabemos,
inegavelmente, que o conhecimento sobre alguma coisa repousa em alicerces
anteriores à própria tese que se formula sobre essa coisa, no sentido de que
fatos novos a respeito de qualquer área científica são previamente direcionados e
estudados sob um ponto de vista racional que já existe, um viés concreto do
conhecimento pré-firmado, e só podem vir a comprovar as formulações que quem
os estuda tinha no momento da hipótese, se o método é delimitado pela ciência firmada de algo e se, depois de dissecado o postulado, este corresponde às mensurações
esperadas. Enfim, o saber sobre algo é limitado ao conhecimento prévio sobre as
coisas que o originaram e que o foram moldando ao longo do tempo, até aquele ponto-chave do estudo.
Ocorre,
todavia, que o conhecimento sobre coisas abstratas é impossível de ser comprovado
por formulações racionais, na medida em que o conhecimento prévio que se têm
sobre essas coisas decorre de hipóteses improváveis no aspecto puramente
científico. Evidentemente, quanto ao amor, a despeito das reações químicas que
este desencadeia no organismo, pode-se dizer que as mesmas reações ocorrem por
outros motivos menos nobres, o que desfideliza sobremaneira seu estudo pelo ponto de vista
exclusivamente científico e impõe, de antemão, abordagens mais hipotéticas ou demasiado
irracionais.
Assim,
fica evidente que o amor pode ser estudado do ponto de vista científico. E sobre
ele se chegará a inúmeras teses, todas de algum modo, amparadas, de certo, nenhuma conclusiva. Porque pensar o
amor de forma ampla na nossa espécie é muito mais ligado aos estudos
antropológicos e ao casamento entre a evolução da inteligência da nossa raça ao
longo da história e os fatores ideológico-filosóficos que a cerceiam, entre os
quais a arte e a religião.
A grosso modo,
o que se quer ponderar com tudo isso é que o amor é, inexplicavelmente, muito
mais uma demonstração externalizada de uma abordagem internalizada nossa a respeito
do afeto que se deve ter pelas coisas, enquanto seres capazes de discernir,
aprimorada ao longo da nossa estadia histórica como espécie, uma exteriorização
da nossa capacidade romântica de convivência social com viés poético e
antropológico, do que um monte de reações químicas cerebrais que nos imponham
mecanismos de ação e reação robóticas sobre o que gostamos.
E a
essa altura você, inteligente, já se pergunta: Ora, se a posição aqui defendida
é a de que todas as outras conclusões sobre o amor são equivocadas porque ele não
é científico, então essa não seria apenas mais uma posição anticientífica que é
defendida, não estando necessariamente certa?
Em larga medida, sim. Resta claro que as influências que temos ao longo da vida, os
nossos estudos e a nossa cultura geral, nos impõem maneiras de pensar sobre as
coisas. Por outro lado, se chegarmos a essa conclusão inexorável de forma
incongruente, poderemos imaginar que todas as conclusões científicas são
viciadas de parcialidade. Nada poderia ser mais paradoxal quanto à conclusão
sobre as coisas, já que nos levaria a concluir que a conclusão sobre as coisas
é inconclusa!
Ora,
por mais complexo que possa parecer, temos que ter conhecimento vasto sobre o
que queremos saber, e dentro da nossa cultura, vamos encontrar a resposta que
se adéqua às nossas convicções. Ela será científica ou irracional, será só nossa, mas quando o assunto for o amor, ela sempre será debatida dentro de nós como o enigma da esfinge, aquele que pouquíssimos poderão decifrar.
Sobre
essa abordagem menos racional, cabe citar a obra de Frei Beto, cujo teor é em alta medida
filosófico e com amplo fundo em fatores antropológicos. Trata-se de um trecho
do texto “A linguagem do Amor”:
“A festa de São João da Cruz (1542-1591) é
comemorada neste dia 14. Considerado patrono dos poetas espanhóis, em suas
quatro obras ele comprova que a linguagem do amor extrapola a razão, supera a
sintaxe usual, subverte a lógica e tem como pátria a poesia. Discípulo e
parceiro de Teresa de Ávila, ele viveu a experiência de Deus com e como intensa
paixão.
Aliás, a mística não é outra coisa senão a
paixão humana elevada à esfera sobrenatural. O que ocorre entre dois amantes,
dá-se igualmente entre a criatura e o Criador, com a diferença de que tanto
mais um se apossa do outro quanto mais se entrega sem querer possuir.
Entre dois amantes, o sentir predomina sobre
o pensar, a efusão sobre a reflexão, o balbuciar sobre o explicar. Os amantes
transitam nos extremos da linguagem, sem se deter no espaço intermediário.
Pronunciam expressões aparentemente desconexas, próprias da comunicação
infantil, na qual os vocábulos parecem emergir diretamente dos sentimentos. No
pólo oposto, dispensam palavras e abraçam o silêncio fecundo, manifestando-se
por toque, gesto, olhar, movimento orgiástico do corpo ou, simplesmente,
repouso de um junto ao outro.”
Para
melhor definir o amor e a razão ilógico-inconsequente de amarmos, podemos lembrar dos
lindíssimos versos de Camões:
Esse
é o amor poético, mais próximo da nossa realidade do que o racional e menos
lógico do que amplo e cheio de definições.
A definição do amor é o amor.
E a razão de amarmos é tão infinitamente simples que não precisa de nada para se comprovar: amamos porque somos seres especiais, somos a metapoesia de Deus!
A definição do amor é o amor.
E a razão de amarmos é tão infinitamente simples que não precisa de nada para se comprovar: amamos porque somos seres especiais, somos a metapoesia de Deus!
Nenhum comentário:
Postar um comentário