Envelhecer é um processo tão importante quanto nascer... pena que poucos de nós percebem isso e desfrutam da sabedoria dos anos a mais de vivência, porque o dom maior que temos é o de poder pensar sobre o próprio envelhecimento e morte.
Pense no porquê de envelhecermos.
Não saberemos se existe resposta para tamanha
indagação filosófica. Fato é que para uma parcela considerável de pessoas, numa
abordagem realística e até muito cruel, em certa medida, a aproximação concreta
da morte pode ser classificada como uma bênção, quiçá, uma libertação. Há que considerar
a vida difícil que levam e a falta de acesso à saúde, educação, lazer, coisas incrivelmente
básicas e que fazem parte da melhor vida, a única vida decente possível.
Por mais estranho à nossa inteligência que possa
parecer, estamos nessa vida de passagem mesmo. Não é demais pensarmos que devemos
fazer dela um caminho firme e digno para a eternidade. De uma forma ou de outra,
a morte também é poética quando se atravessa a vida vivendo, tendo os melhores
momentos como lembrança e os piores como ensinamento. Receio que antes de se
pensar em Deus, num próximo eventual outro plano, devemos pensar primeiro em
como evitar o lado negro da força nesse plano, aquele que nos persegue desde
sempre e que alimenta nossas expectativas de ter uma vida abastada.
Aqui é apenas a menor parte de todo o nosso tempo
existencial e não sou eu quem estou dizendo.
Tudo bem. De certo que essa é uma abordagem entre
tantas outras. Outro dia mesmo, foi publicada numa matéria muito interessante
da Revista Mundo Estranho que todos viemos estruturados com células que têm um
tempo de vida útil pré-programado, e estas simplesmente se rompem e morrem em
um dado momento histórico que é só nosso.
Não somos mais do que bombas-relógio.
Somos Homens-bomba de nós mesmos.
De algum modo, essas células têm em si a indiscriminada
capacidade de envelhecer de forma única. Em tempo, todo ser humano há de conservar
em si uma capacidade única de envelhecer, que lhe é muito própria, que detêm
somente o seu peculiar código de informações acerca de cada passo que cada
célula dará em cada momento de sua vida. Trata-se de um preciso e incontrolável
Relógio Biológico, ao qual ninguém é capaz de ter acesso, mas que pode, sim,
receber pequenos ajustes finíssimos ao longo da vida, que fazem toda a
diferença no seu decorrer e em como ela haverá de terminar.
Afinal, desde sempre sabemos que relógios adiantam
ou atrasam!
Enfim, o que se pretende dizer é que se optarmos
por ter uma vida saudável desde sempre, nossas células, a despeito das
informações genéticas ruins que já tragam previamente, tentarão compensar a sua
autodestruição predefinida com o atraso da oxidação, prolongando
sensivelmente a sua existência, ocasionando em si uma sobrevida fundamental aos
tecidos e readequando a qualidade de suas funções básicas de existência
enquanto vivemos. É dessa forma que somos afetados pelo nosso ritmo de vida,
segundo a ciência.
Sem pretender adentrar demais nesse campo, nossa
abordagem sobre a vida e sobre o envelhecimento, como se vê, pode ser
espiritual ou biológica. É premente que sempre encontraremos uma explicação
plausível para que nossa estadia por essa fase que se chama Planeta Terra seja
explicável, de qualquer ponto de vista, entretanto, a melhor alternativa é
pensar que somos seres dotados de vida apenas, e poeticamente falando, a vida
tem um ciclo que lhe é necessário: Nascimento, amadurecimento, reprodução,
envelhecimento e morte.
Se por um lado objetivo, então, podemos explicar
coisas que são muito difíceis de entender, por outro, subjetivo, passaremos a
questionar a razão de quem amamos não poder estar eternamente ao nosso lado.
Pois então, pensemos apenas: imaginemos aonde
chegaríamos se ninguém morresse! Ora, a essa altura da vida no planeta estaríamos
dialogando com a nossa centésima geração e não é difícil perceber que isso
seria um tanto desconfortável do ponto de vista das experiências, e mais outro
tanto inviável, do ponto de vista do preenchimento dos espaços, porque
considerando a física, o planeta tem uma clara limitação espacial com a qual se
torna cada vez mais difícil lidar. Há ainda a questão da evolução.
Como
poderíamos evoluir se não pudéssemos morrer?
Portanto, morrer é necessário cientificamente, embora
desnecessário irracionalmente.
Decisivo, no entanto, é pensar no porquê de
envelhecermos.
Já que teremos que morrer, por que temos que
envelhecer antes?
A explicação para essa pergunta não encontrará respostas tão convincentes quanto a que nos revela o fato de que temos que
morrer por uma questão definitivamente lógica, que nos remete à continuidade
plena da raça humana.
O envelhecimento das pessoas causa problemas incontornáveis ao
mundo, embora morrermos seja a solução para os problemas que o envelhecimento
nos causa. É inacreditavelmente paradoxal.
Se não envelhecêssemos, seríamos eternamente filhotes
da nossa espécie, e isso nos inviabilizaria a reprodução, algo que
é muito básico à existência de uma qualquer espécie. Depreende-se dessa
observação óbvia que a importância do envelhecimento está na maturação natural da
espécie: só entendendo como nosso corpo se comporta com o envelhecimento
celular é que viabilizamos como lidar com a morte necessária, é que compreendemos
mais concretamente como o fim de um grupo de indivíduos no decorrer da história
da espécie é capaz de influenciar na evolução dessa mesma espécie como um todo.
Portanto, conviver com a deterioração dos tecidos é uma mal necessário à
progressão da nossa raça, em termos biológicos.
Diante dessas constatações, temos que nem sequer
travar o envelhecimento celular em um certo momento da vida do indivíduo
pudesse ser algo interessante para a ciência, já que passaríamos a atentar
contra a natureza, impedindo a conclusão de seu ciclo.
Assim, o modelo de ser humano ideal é o que se prolonga
como espécie. Pode ser mais longevo pelo aprendizado das limitações naturais de
seu corpo, em contrapartida da observação das experiências da sua própria
espécie, mas precisa não ser extinto.
Para não ser extinto, precisa envelhecer e precisa
morrer.
E precisa aprender que envelhecer não é o começo do
fim, e nem a morte é o fim.
Precisa aprender que o dom maior que temos é o de poder pensar sobre o próprio envelhecimento e morte.
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