Essa maneira atravessada de lidar mal com coisas planejadas é típica da nossa cultura e das culturas com independência e industrialização tardias: é, sem sombra de dúvida, a herança mais funesta que os nossos colonizadores poderiam nos deixar.
Alguém já falou que o caos administrativo é a solução de todos os
problemas institucionais.
E vale lembrar que não se trata da teoria clássica
do caos. Aquela em que um evento mínimo pode desencadear mudanças enormes e
perpétuas em todos os acontecimentos a partir dele. Falamos mesmo do caos com o qual se lida nas atividades de gestão.
Trata-se de uma teoria muito simplista,
naturalmente, mas que tem todo o fundamento e durante muito tempo foi aceita
como uma meia-verdade. É que afundados no caos, evidentemente não precisamos de
planejamento, só de contenção. Normalmente, na forma reduzida, o caos é apenas
a crise diária com a qual mal lidamos, e que, gradativamente se transmuta nas
formas irresolvíveis de que tanto gostamos e com as quais lidamos de forma
muito mais efetiva para concretizar nossos desejos.
Mas não podemos nos enganar: não é assim em grande
parte do mundo. Essa maneira atravessada de lidar com coisas planejadas é típica da nossa cultura e das culturas com independência (em geral, de processos colonizatórios exploratórios) e industrialização tardias.
Peguemos como exemplo um país que precisou
amadurecer rápido institucionalmente diante de problemas inesperados e extremamente agudos. Desde
a segunda guerra mundial, quando foi dizimado, o Japão vem nos dando lições de
como lidar com o planejamento das questões administrativas mais complexas do
país, evitando o caos em quase todos os campos sociais. Por lá, essa palavra é
proibida: a mensuração do planejamento tem que englobar a possibilidade
concreta da perda do controle dinâmico das atividades e nele tem que caber a
forma necessária sobre como lidar com o horror de ter que tomar medidas
desesperadas. O Japão é o exemplo perfeito de que até mesmo o caos pode ser
planejado e a certeza de que fomentar que o caos administrativo é que promove a
melhoria institucional é uma mentira deslavada. Por lá, a escola, desde o
equivalente ao nosso maternal, já ensina as crianças a lidarem com as situações
inesperadas do dia a dia, sendo componente importantíssimo no desenvolvimento cognitivo-organizacional das pessoas, que desenvolvem a crítica aos acontecimentos até a
idade adulta.
Por outro lado, olhando pelo prisma da nossa cultura, não há como negar que o caos é
atrativo ao gestor, ainda que inconscientemente, pois dele os líderes frágeis se alimentam para
decisões efetivas e que alavancam a sua liderança em curto prazo. Por isso
mesmo, especialmente nos países menos desenvolvidos, locais em que o estudo
acadêmico da administração ainda é restrito, os gestores não se lembram de
que o descontrole existe e de que, apesar de não ser destrutivo a curto prazo,
atravanca a evolução administrativa em enorme medida. Some-se a isso a ideia
equivocada de que quase todas as evoluções e invenções mais importantes da
humanidade se deram em meio a momentos caóticos, foram motivadas pelo desespero
por medidas que pudessem conter o avanço do descontrole institucional
imperativo.
Para exemplificar melhor esse argumento, podemos voltar à antiguidade, ou até mesmo ao mundo mais primitivo. O homem criou ferramentas para que pudesse lidar com o crescimento populacional e com a questão do cultivo e da caça, necessários à nova vida em comunidade. Desenvolveu meios para se valer de animais e plantas como formas de conter o frio e as doenças. Mais tarde, pensou em máquinas e na luz elétrica. Enfim, nada do que conhecemos e nos utilizamos hoje em dia foi feito com tempo para ser feito, mas - não se engane - foi pensado sem crise e sem pressão, e portanto, somente se tornou conhecido em meio ao caos, e é disso que decorre que ficou impresso na mente humana, quase que como um mantra, a expressão de que o momento caótico nos força a ser ativos e resolutivos, o que não é, definitivamente, uma verdade.
Para exemplificar melhor esse argumento, podemos voltar à antiguidade, ou até mesmo ao mundo mais primitivo. O homem criou ferramentas para que pudesse lidar com o crescimento populacional e com a questão do cultivo e da caça, necessários à nova vida em comunidade. Desenvolveu meios para se valer de animais e plantas como formas de conter o frio e as doenças. Mais tarde, pensou em máquinas e na luz elétrica. Enfim, nada do que conhecemos e nos utilizamos hoje em dia foi feito com tempo para ser feito, mas - não se engane - foi pensado sem crise e sem pressão, e portanto, somente se tornou conhecido em meio ao caos, e é disso que decorre que ficou impresso na mente humana, quase que como um mantra, a expressão de que o momento caótico nos força a ser ativos e resolutivos, o que não é, definitivamente, uma verdade.
Vejamos o caso da NASA: tem tido um tempo absurdo e
toda a calma para desenvolver métodos para conter o choque de meteoros contra a
Terra, por exemplo. Nessas medidas não há nada de desesperado, muito pelo
contrário: há todo o tempo do mundo, já que pelo menos até 2043 não existe qualquer
mínimo risco de choque programado.
Enfim, lidar com o caos também é uma coisa com a
qual estamos aprendendo. O mundo vem se adaptando à forma antecipada de
premeditar acontecimentos ruins e se programando para entendê-los adequadamente
antes que possam se tornar riscos reais, antes que desconfigurem a atmosfera de
tranquilidade para a tomada decisiva de ações. Antes que precisem ser contidos
à força, em meio aos acontecimentos. O caso das soluções que evitam o choque de
asteroides no nosso sistema é um dos exemplos claros, mas poderíamos dar muitos
outros, como o monitoramento de vulcões e de tempestades.
No Brasil as coisas ainda não se aproximaram desse
nível. Nossa industrialização muito tardia e nossa república democrática ainda
muito insipiente são traços reveladores da nossa imaturidade administrativa,
que advém do fato de termos sido sempre explorados como colônia e de nunca
termos dado as cartas, em momento algum da nossa história, nem na mais recente,
em que o Brasil integra as oito maiores economias do mundo. Na verdade, essa
colocação tem mais a ver com a produção de riqueza interna do que com o uso da
mesma.
É relevante observarmos que o caos integra o nosso
dia a dia desde que somos crianças. Na escola já aprendemos a fazer o trabalho
no dia e na hora da entrega. É cultural. O que deveria ser uma consequência
natural do avesso das coisas quando perdemos o limite, passa a ser o objetivo
mais esdrúxulo de sempre: prosseguir a despeito das soluções, apesar delas, e
buscar o desmedido motivo que nos impulsiona ao mundo sem controle. Nesse
mundo, sim, somos dotados de enorme habilidade para a solução das intempéries. Somos
os bombeiros perfeitos para apagar qualquer incêndio, mas não podemos, de forma
alguma, ser os fiscais que impedem o incêndio de começar.
Nosso mundo subdesenvolvido se baseia nisso e simplesmente desconhecemos
o planejamento das coisas, o que impacta diretamente na forma como
administramos nossos nichos de convivência mínimos, na forma como nos
integramos em comunidade e na maneira como lidamos com a sociedade ampla, nas
escolhas que nos impulsionam desde os níveis mais básicos, até aquela que
fazemos por meio de voto, para o Presidente da República. Essa anticultura
relativa é o modelo mais fiel do submundo latino-americano e se reflete até
mesmo no combalido Mercosul.
Um ponto demasiado relevante às pretensões
econômicas do mundo é que o caos está sendo combatido de fora para dentro. A pressão internacional das maiores potências
econômicas por Constituições cada vez mais focadas na ideia de planejamento
amplo, com planos diretores que possibilitem o desenvolvimento macro dos países
mais desprovidos de recursos pelo aparelhamento completo de suas cidades, é
tamanha. A ponto de já haverem conglomerados econômicos promovendo o expurgo
das economias minimamente inadimplentes em seus cenários internos, mesmo a
dívida interna dos países tem incomodado a ONU e os conglomerados econômicos
mais fortes, já que o impacto dos pequenos nos mercados mundiais é global.
Decisivamente, governar sob caos não é uma via
adequada ao mundo moderno e o advento tecnológico, a sede pelo conhecimento
constante, estão tornando as suas bases cada vez mais frágeis e forçando as
populações menos prontas a lidar com o inesperado aptas a fazerem a passagem
para a mudança planejada dos seus sistemas sociais. Deveremos ver cada mais
cidades com aparelhamento suficiente para deter a mínima onda inesperada da
natureza, seja ela natural ou humana.
Em medida ampla, o caos na administração se combate com a busca pelo IDH alto dos países menos estruturados economicamente.
Em medida ampla, o caos na administração se combate com a busca pelo IDH alto dos países menos estruturados economicamente.
O Brasil, nesse contexto, é uma ponte para o futuro
da América do Sul, por ser o líder econômico do Mercosul, tem sido
insistentemente pressionado pelo mundo para tomar medidas de erradicação da
pobreza e de controle e preservação ambientais. O interesse do mundo pelo nosso
país, mais do que o nosso próprio interesse, pode salvá-lo de nós mesmos.
E o que falta para aprendermos a planejar e a
fazermos cidades do tamanho das nossas riquezas?
Pergunta fácil, resposta fácil: vontade!
A consequência única disso é que quem sabe não a tenhamos que engolir goela abaixo!
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