A despeito dos clamores sociais que imploram por um mundo sem a necessidade do crudelíssimo abate de animais, nossa natureza predatória nos impulsiona à prática, muito antes do desejo e da real necessidade. E por outro lado, qual seria mesmo a verdade científica por trás de toda essa história?
Por que o veganismo é a melhor solução para a preservação
da vida no nosso planeta?
Pelo menos uma centena de vezes você já deve ter ouvido
essa pergunta em algum lugar e é de se imaginar que todas as pessoas que nutrem
qualquer tipo de afeto por animais – alguns, gostam até mais dos bichinhos do
que de gente - já tenham também se feito. Fato é que evitar se alimentar de
qualquer coisa que tenha vida e ande, em termos que tenham provocado qualquer
tipo de sofrimento a estes seres, não vai resolver nenhum dos problemas da
humanidade – longe disso. De outro modo, não deixa de ser uma forma de protesto
muito válida e pode, sim, contribuir muito para conter a matança indiscriminada
dos nossos bichinhos.
Sabemos sem mínimo esforço intelectual que sempre haverá
quem nos alerte de que somos predadores por natureza – o que qualquer pessoa de
inteligência média tem conhecimento claro de que também não é uma mentira - e
que os próprios animais praticam a caça e a matança entre si, numa cadeia
alimentar altamente necessária ao ciclo natural das coisas. Até aí, tudo bem, essas
são coisas sobre as quais todos nós, inevitavelmente, concordaremos em certa
medida. Entretanto, é preciso informar a essas pessoas que elas só sabem disso
porque racionalizam as coisas, e que isso é uma vantagem absurda em
relação ao intelecto limitado dos animais. Veja: somos seres puramente pensantes
(alguns nem tanto, como bem diz o Woody Allen), dotados de esperteza e
inteligência em graus consideráveis, com racionalidade adequada a
compreendermos o mundo de forma a extrair dele o que de melhor haja para a
nossa subsistência. De certo também que a proteína animal é vital, há essa
relevância biológica que não pode ser desprezada, de modo algum, inclusive,
isso é científico. Entretanto, com o nosso nível de tecnologia atual já podemos
sintetizar proteínas a contento, de diversas formas inacreditavelmente
eficientes.
Aliás, a despeito desse intróito, não podemos deixar de considerar que há ainda uma outra
abordagem, mais naturalista: também há os que critiquem o fato dos veganos somente consumirem vegetais por considerarem
que vegetais também são seres vivos. Notadamente, essas pessoas têm suas
razões. Enfim, vegetais estão vivos mesmo, no entanto, a ciência não provou até
hoje que sintam dor ou que, ainda que de forma instintiva, sintam psicologicamente
o momento de sua morte, como os bois que terrivelmente vão para os corredores
da morte querendo voltar, ou como os porcos que choram, gritam e esperneiam de
forma desesperadora no instante horroroso em que vão ser abatidos.
O abate de animais é inquietante, perturbador e cruel ao extremo. Uma parcela considerável das pessoas acha horrível a ideia de se aplicar pena de morte a bandidos cruéis e sanguinários, irrecuperáveis, mas não acha a mesma coisa da pena que é aplicada aos animais, sem que tenham feito nada, sem que tenham atentado contra nada na natureza, apenas por serem de espécies inferiores, e portanto, passíveis de subjugo.
Assim, não há como negar que a filosofia do veganismo
é uma maneira muito especial de enxergar a vida e de preservá-la de forma
ampla, de deixar que a natureza siga seu curso linear para todos, não só para
os humanos. A base da doutrina vegana é o questionamento ao Especismo, teoria que atribui valores ou direitos diferentes aos seres, dependendo da sua afiliação a determinada espécie. Refere-se à discriminação que envolve atribuir a animais sencientes diferentes valores e direitos baseados na sua espécie e permite que umas espécies dominem outras. O veganismo é veementemente contra esse tipo de abordagem.
Tudo bem. Talvez a essa altura do texto não seja de clara compreensão a diferença entre veganos e vegetarianos, então, vamos tentar esclarecer. Basicamente, os vegetarianos, embora sejam antipáticos ao consumo de
qualquer carne animal, podem ou não optar por consumir laticínios e ovos. Todavia, não aboliram a exploração animal de sua cadeia
natural alimentar, apenas optaram por proteger a natureza ao evitarem que
animais sejam mortos para virar comida, diretamente. Vegetarianismo é alimentar
puramente, se limita aos aspectos da exploração alimentar dos animais.
Numa abordagem bastante mais rigorosa, stricto sensu, os veganos são como
uma espécie de fundamentalistas da doutrina do vegetarianismo, levam o não-especismo ao extremo, pois além de não
consumirem qualquer carne animal, também optaram por viver sem o consumo
de qualquer substância alimentar de origem animal, e isso sempre inclui ovos, leite e
similares. São aqueles que são antipáticos doutrinariamente até mesmo à
exploração animal, de todo e qualquer tipo, seja para a obtenção de alimentos,
seja para a obtenção de produtos de origem animal para uso de qualquer espécie,
como casacos obtidos de pele e óleos cosméticos, por exemplo.
Diante de tantos argumentos para ambos os lados, se há quem
deseje saber a minha posição com relação a isso tudo: não sou vegano e nem mesmo,
vegetariano. Também, não pretendo ser. Não porque não seja simpático a essa
forma de ver o mundo, nem porque defenda a necessidade de se comer animais para
a nossa sobrevivência, mas apenas e tão somente por questões muito práticas. Receio
que o mundo não tenha sido planejado para que veganos saiam, vão ao cinema e
tenham uma tarde agradável com a família, um bom almoço em um restaurante com
cardápio saborosamente limitado a comidas de origem vegetal.
Mas juro que gostaria muito que fosse diferente.
Infelizmente, o mundo não pretende abolir a exploração
animal de sua vida. E isso tem até mais a ver com aspectos econômicos do que
com a crueldade, de maneira ampla. Claro que há muita crueldade, mas o mercado
da pecuária é um dos que mais movimentam dinheiro no mundo.
Naturalmente, de maneira conclusiva, ainda não há consenso
na comunidade científica sobre se o mundo sem consumo de substâncias animais
seria melhor, sobretudo, se a alimentação puramente vegetal seria sustentável, muito
embora todos os simpáticos à doutrina veganista insistam em dizer que consomem
todos os nutrientes necessários para a sua sobrevivência, até com sobras. A
verdade nua e crua é que não há pobres no mundo que vivam sob essa doutrina, e
não é plausível que pudessem existir, pois a vida sem alimentos de origem
animal é muito mais cara. Ou alguém acredita que Tofu (queijo de soja) tem
preço similar a queijo muçarela? Daí que obter os nutrientes necessários à
nossa sobrevivência sem consumir produtos de origem animal pode até ser
possível, mas sem sombra de dúvidas, é bem mais caro e, evidentemente, só por
esse motivo, inviável. Essa constatação, por si só, já torna o vegetarianismo e
o veganismo inviáveis como doutrinas de adesão mundial.
Por fim, vale muito lembrar que Jesus não era vegano. Há
diversos relatos bíblicos sobre o consumo de peixes e o uso de animais para
pastoreio e obtenção de leite e ovos, além de pele para uso como cobertor e
casaco. Enfim, Jesus nunca pregou que não nos valêssemos dos animais para a
nossa vida. Por outro lado, isso vai muito longe de incentivar matanças e/ou
festivais, como os que se fazem com bois na Europa, como as touradas do México
e Espanha, ou como as matanças horríveis de cães organizadas na China.
No fim das contas, o veganismo não é bom e também não é
ruim. É apenas uma opção de vida, como tantas outras, como a que se faz por uma
religião ou como uma filosofia fundamentada, algo que não tem que
necessariamente estar certo ou errado.
Entretanto, é uma opção que os animais agradecem, embora eles mesmos não adiram!
Nenhum comentário:
Postar um comentário