Descobri o significado de fiasco... Já havia
descoberto o de vexame.
Enfim, a Seleção Brasileira - não mais, aquela
Canarinho de outrora! – nos fez a gentileza de perder para um Peru que tem em
Paolo Guerrero sua estrela – Pasmem! A bola pune... Conseguiu ser eliminada da Copa América em
um Grupo com mais Haiti e Equador, que de grupo da piada, passou a ser da morte.
É mesmo um fiasco esdrúxulo, ninguém duvida, aliás, mais um... e nos faz
repensar o próprio sentido do vexame, no caso, se ter perdido para a
tradicionalíssima Alemanha em casa por sete (porque isso foi o que eles quiseram
fazer de gols), há quase dois anos atrás, fez mesmo com que acordássemos do horrendo
pesadelo administrativo em que o nosso futebol se meteu.
Lógico que não. Receio que o que mais deva revoltar
a cada um de nós é o fato de que qualquer cidadão brasileiro com inteligência mediana,
técnico de futebol por ocasião e paixão desde sempre, seja plenamente capaz de enxergar as mudanças que devam ser feitas a curto e médio prazos, talvez, até
a longo prazo, mas as pessoas que estão lá há séculos, que mexem com o Futebol
e vivem disso, literalmente, não consigam sequer mudar um básico calendário.
Também, pudera: temos uma entidade cujo Presidente (Del Nero) não
pode sair do país para acompanhar a seleção que ela rege porque será preso! Isso existe!? Existe!
De antemão, ter trazido o Dunga depois de tudo que
ocorreu na Copa já foi um sintoma agudo da nossa desventura interminável que se
traduz por um câncer conhecido como corrupção. Por outro lado, se olharmos para
o cenário nacional, não se há de ver nada de muito empolgante... é mesmo muito
difícil imaginar um técnico brasileiro que promovesse qualquer mudança na nossa
maneira de jogar, na maneira como aplicássemos o futebol moderno ao nosso jeito
de jogar ousado e em como pudéssemos nos desenvolver mecanicamente falando, a
ponto de ocupar os tais espaços, tão requeridos e comentados na tática
futebolística moderna.
Pense no Tite. É ele. O cara é o próprio expresso
da retranca... não dá! Sinceramente. Se é para se ter mais dias de agruras,
então que se chamasse o Papai Joel: pelo menos não perderemos mais de sete! E
talvez consigamos empatar com o Peru da próxima.
Infelizmente, precisamos mesmo repensar tudo. Atitude
radical é só o que nos pode salvar para daqui a umas três copas do mundo, quiçá.
Precisamos reformular a maneira como se joga o futebol no Brasil, não a forma
como se o enxerga: continuamos sendo os melhores individualmente, mas pecamos
por esquemas da década de 40.
Naturalmente, em primeiríssimo lugar, para que
possamos começar qualquer conversa sobre melhoria, é inviabilíssimo não termos
o mesmo calendário dos Europeus. Isso é ponto mais do que pacífico para todos.
Teremos que mudar, inevitavelmente, ainda que isso nos traga desgosto inicial e
prolongado, porque não há mais como conciliar os problemas absurdos que se
originam de um mundo que joga futebol em época diferente da nossa: pense em
jogadores que migram no meio dos nossos campeonatos por causa da janela de
transferência europeia, assim como, jogadores que, contratados em maio, só
podem jogar em agosto, pelo mesmo motivo. E as seleções? Elas simplesmente não
treinam e têm enorme dificuldade em marcar amistosos, e lógico, a causa disso é
tremendamente visível: o tal maldito calendário que não bate. Enfim, não
adianta mais pensar em originalidade e tradição, não há como não termos o mesmo
calendário, virou uma questão de sobrevivência impossível de se conciliar com a
realidade do futebol praticado no mundo.
O calendário do futebol é de agosto de um ano a
maio de outro. Esse tem que ser o nosso calendário e ponto final. Partiremos
desse primeiro ato para reformular o nosso futebol através de bases realmente
firmes. Férias de 30 dias em junho e pré-temporada de 30 dias em julho.
Agora, imaginando que isso resolva uma parte bem
interessante dos nossos problemas, vêm as outras partes, e nelas está inserido
o fato de jogarmos estaduais, especialmente por termos um sem-número de clubes
que não fazem mais nada ao longo do ano.
Na minha modestíssima opinião de torcedor, isso se
deve ao fato de termos poucas divisões de futebol profissional e mínima
criatividade. Vejamos a Inglaterra, que bem menor que nós, têm seis divisões de
futebol. Como nós podemos ter só quatro!? Alguma conta não fecha: Isso está
claramente errado. Então, sejamos simples: pensemos em estaduais muito empolgantes,
com no máximo, dois meses de duração, tiro curtíssimo e o charme da nossa
tradição e originalidade pode ser mantido, claro que pode! Depois, vem a parte
mais legal e ousada: encaixemos esses clubes em, pelo menos, oito divisões, pra
começar. Esse é o nosso tamanho inicial. Poderemos estudar outras soluções, mas
então temos que nos adequar a ele para podermos partir de um princípio justo,
em que todos tenham a chance de experimentar as competições nacionais. Proponho
vinte clubes nas três primeiras divisões, trinta e dois, da quarta a sexta; quarenta e oito na sexta e sétima; e sessenta
e quatro na oitava, com números progressivos de rebaixados e ascendentes, de
acordo com as quantidades de clubes nas divisões.
Pronto. É difícil pensar nisso!? Reflita e veja se
não faz muito mais sentido assim... Encontre a sua forma de pensar, mas um
ponto em comum teremos: temos poucas divisões. A forma como elas devem ser
organizadas é uma proposta, cada um pense a sua, mas tem que ser mudado. Do
jeito que está, não dá. O futebol no Brasil não é atraente e não é sustentável
e assim qualquer esporte morre.
Imaginem o seguinte calendário: Férias em junho e Pré-temporada
em julho, como já citado acima. O início das atividades se dará em agosto por
meio dos charmosíssimos campeonatos estaduais, que terão data-limite em 30 de
setembro, mas podem acabar antes. As federações locais decidam o que achem
melhor para seus clubes. A partir de outubro e até dezembro, todos os finais de
semana e alguns meios de semana (quando necessários) serão dedicados ao
campeonato brasileiro, podendo haver datas encaixadas esporadicamente para
outras competições que se iniciem, exatamente como na Europa. Depois, virado o
ano, a partir de janeiro, somente os finais de semana dedicados ao campeonato
Brasileiro e os meios de semana exclusivos das copas do Brasil, Sulamericana e
Libertadores, com a assertiva inegociável de que o clube que constar em uma dessas competições, não poderá constar simultaneamente nas outras duas.
Pronto, resolvemos o calendário. É muito certo de
que somente essa mudança de calendário já resolveria uma grande quantidade de
problemas, inclusive porque tornaria nosso futebol vendável ao exterior. Poderíamos
criar horários alternativos para determinados jogos que os tornassem
televisíveis fora do país. Entretanto, não esqueçamos que outras medidas de
suma importância precisariam ser tomadas para resolver a insolvência dos
clubes.
Nosso futebol tem que ser rentável. Esse é outro
ponto inegociável. Temos a peculiaridade de nossos clubes serem instituições
desportivas sem fins lucrativos. Não que isso deva ser mudado necessariamente,
mas precisa ser adequado à realidade futebolística do mundo. Precisam ser
criados mecanismos legais que impeçam os clubes de serem administrados sem
lucro e no vermelho. Por que não abrir uma ampla discussão com os especialistas em prol da criação de uma lei para que os clubes fossem
obrigados a adequarem seus estatutos aos novos termos padronizados propostos do futebol
brasileiro. Essa lei regularia, entre tantas outras coisas, o preço dos
ingressos; a impossibilidade de clubes não terem estádios e sedes sociais,
estabelecendo prazos para que eles pudessem providenciar; a questão da isenção
fiscal e a solução para isso; propostas de padronização das vantagens oferecidas
aos sócios dessas agremiações desportivas; proibição das agremiações se unirem
a quaisquer grupos organizados. Enfim, um conglomerado de direitos e deveres
fundamentais que tornassem as agremiações solventes e saudáveis por obrigação,
podendo seus dirigentes serem presos por improbidade, por exemplo.
O nosso futebol tem jeito. Claro que tem. Gente
séria e bem intencionada resolve ele.
Não é plausível que jogadores com 12 anos já
estejam sendo vendidos para clubes europeus. Uma lei deve regular essa relação.
Por exemplo, impossibilitando que jogadores se transfiram para fora do país
antes de uma idade determinada, 23 anos, por exemplo.
E para terminar, sem muita profundidade, já que é claríssimo que não
sou um especialista nesse tema e quero apenas levantar a bola para a discussão:
Torcidas organizadas, não! Isso precisa acabar de qualquer jeito. Algo precisa
ser feito para que essa maioria de vândalos desabite os estádios e que famílias
passem a habitá-los.
Agora, reflita: inacreditavelmente, tudo isso que
eu citei existe em alguns países e em alguns esportes. Na NBA, leis regulam os
clubes e as relações dos atletas no que diz respeito à transferência de
jogadores, regulam, sobretudo, as relações entre os clubes e as federações e o
público. Portanto, isso não é nenhuma novidade. Não é uma proposta para
reinventar a roda!
Na verdade, é! de modo semelhante, devemos reinventar a bola. Porque a que estamos jogando já está quadrada!
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