Até aonde podemos ir ao ponderarmos sobre qualquer assunto? Qual é a linha tênue entre o que é puramente individual e diz respeito somente aos envolvidos e o que ultrapassa o limite da privacidade e se torna coletivo, público? Será que na sociedade moderna há mesmo ainda direitos genuinamente individuais? Para todas essas perguntas há, certamente, uma opinião diferente, talvez não haja, em realidade, apenas consenso.
O mundo evoluiu e foi amplamente tomado por
democracias complexas e com estupendos índices de desenvolvimento humano. Nesse
sentido, sociedades mais abertas tendem a clamar por modelos críticos mais
respaldados e por formas cada vez mais coletivas de sustentabilidade política,
no que esbarram no dilema do limite da opinião.
Óbvio e desinteressante. Porque, veja: alguns
países têm se posicionado contrários à entrada de imigrantes em seus
territórios e isso tem sido visto como uma afronta à humanidade, muito antes de
ser ponderado sob o ponto de vista da política e da estrutura locais. É certo
que as democracias modernas estão cada vez mais próximas do liberalismo
exacerbado e quanto mais o sistema educacional de um determinado país evolui,
tão mais crítico é o seu povo e tão mais se discutirão os modelos de gestão
imperativos, ao passo que sociedades são mais abertas ao diálogo na medida em
que quão mais cultas e melhor formadas são as suas pessoas.
Ponderando, é certo que nações que alcançaram esse
nível de evolução, sejam "repopuladas" com pessoas sem quaisquer vínculos
emotivos ou com níveis culturais infinitamente inferiores aos dos locais?
E por outro lado, por que razão estamos sempre tão
motivados por democracia? Não seria por que em algum momento todos nós adoramos
ter e demonstrar opinião, muito mais do que pelo simples fato de que o mundo é
melhor assim? Democracia tem sido uma fissura e o modelo que nos permite
participar da sociedade, como qualquer coisa que nos dê vez e voz é cada vez
mais ampla e possível, cada vez mais acessível, e por que não dizer, ululante.
Então, a democracia é o modelo que nos impulsiona
ao desenvolvimento e ao mesmo tempo, nos traz à realidade das condições
adversas do mundo ao nosso redor, que nos faz ter a opinião e que nos motiva a
dá-la, mas que nos limita por aspectos sociais que pendem para o que as pessoas
entendem como sendo preconceituoso.
Objetivamente, é mais ou menos como quando se pensa que
ser democrático é aceitar tudo: que estrangeiros entrem em qualquer país, que
não haja fronteiras, que as pessoas aceitem as outras na plenitude das suas
ações e isso envolve tudo, desde a orientação sexual à cor e ao nível cultural, evidentemente, mal comparando essas coisas entre si.
Enfim, democracia nos impele a quebrar o que é liberal, muito ao contrário do
que o conceito inicial dela possa nos fazer crer, considerando que o
liberal imaginado pelos capitalistas é justo o que oprime, e nunca, o que
liberta.
Em uma coisa ninguém há de discordar: opinião haverá de ser sempre uma
obsessão saudável e que faça com que sejamos melhores, ainda que burra.
Ok. Mas diante de tudo que foi dito até agora, te
faz sentido que a opinião tenha limite?
Pessoas têm achado por aí – e isso também é uma
opinião, curiosamente – que não devemos ponderar sobre coisas que são
individuais. Em tempo, o mundo evoluiu a tal ponto que hoje quando alguém
planeja ter relações sexuais com outra pessoa do mesmo sexo, não planeja só
o ato, em si... planeja o reconhecimento social do ato. Antes as pessoas
transavam entre quatro paredes e não importava se com gente ou com bicho ou com
brinquedos. Seja como for, hoje elas querem aceitação e isso é um modelo
coletivo de se pensar as coisas individuais, de modo que não há como mais
dividir o que é direito individual do que é direito coletivo.
A opinião é mais do que o simples ato de se
ponderar algo, ela é a própria abordagem desse algo e transcendo a própria ideia do que
é preconceituoso.
Exemplificando: antigamente, negros queriam ser
aceitos como a lei diz que devam ser aceitos e nesse sentido, queriam todos os
direitos iguais ao de todos. Ora, a lei já previa isso. A questão que emperrava
esse modelo era apenas e tão somente cultural. Assim, o que se deveria fazer
era educar as pessoas a tal ponto que percebessem que diferenciar pessoas pela
cor é burro e vil, ultrapassa a barreira do absurdo. Mas não, ao contrário, fomos pelo lado mais difícil e criamos mais leis
que diziam que negros deveriam ser vistos de forma igual, agora sim,
diferenciando-os por vez!
É o caso das cotas raciais. Nunca deveriam ter
existido, ou ainda, se o tivessem, que fossem como o Professor Cristovam
Buarque sempre disse: temporárias. Agora, se eu tenho a opinião de que não
prestam para a sociedade, inclusive porque elas me atinjam diretamente,
considerando que eu não seja negro, estou sendo apenas “preconceituoso”.
Verdadeiramente, o preconceito está nas mãos e na
cabeça de quem criou essa lei. Se todos somos iguais perante a lei, porque
criar leis que beneficiem grupos, quando a única coisa que deve ser feita é
educar o grupo que se oponha ao óbvio?
Quando o Papa diz que as escolas estão erradas em
ensinar às crianças que podemos mudar de gênero, ele alerta que isso não
depende do individual. Alerta que a humanidade é coletiva e os direitos ao
reconhecimento da nossa individualidade são elaborados em conjunto e, portanto,
respeitam a ética social e não, a vontade individual. Seja como você quiser na
sua intimidade, faça uso de drogas, transe com pessoas do mesmo sexo, roube
seus pais... dentro da sua casa, na sua restritíssima intimidade, tudo é
possível, tudo é legal, tudo respeita a sua ética, o seu modelo individual e
que não terá forma repetida. No entanto, a aceitação social disso tudo tem
forma. Precisa ser algo que é moldado para o bem do coletivo, de modo que para
o coletivo talvez não seja bom que você case com uma pessoa do mesmo sexo, por exemplo, gerando leis
confusas sobre algo que é sedimentado, antes de ser preconceituoso. Evidentemente que seria muito
mais fácil se esse casamento fosse entendido como um contrato entre partes,
porque isso atinge o fim social e não impede a convivência, não limita - e aqui não vai juízo de valor e nem a minha opinião pessoal, embora eu seja contra o casamento gay, declaradamente.
Por fim, não acredite que não querer que seus
filhos sejam gays é semelhante a não aceitar gays. Isso é uma falácia de
pessoas que nunca leram Kant ou que acham que Freud é soberano em todos os seus
comentários sobre o indivíduo.
Nosso único dever social é o de respeitar e nossa
única incumbência é a de conviver. Nosso direito, na medida em que respeitamos
o coletivo, transcende o que não é permitido externar individualmente e nos dá
o poder de pensar no que é certo e no que é errado, a despeito do que devemos engolir
por ser o processo democrático natural do vencido.
Democracia é isso: o vencido não se cala. O vencido
aceita sem chavões e sem resistência social, no entanto, pode e deve tentar
reunir pessoas que pensem como ele para votarem diferente da próxima vez.
A esse processo válido não chamamos de preconceito,
chamamos de opinião.
Preconceito é quando a opinião avessa que motiva ao
cometimento de atos contra a cidadania.
Opinião é arte e arte queremos sempre e sem limites. Portanto,
faça a sua arte e me faça reconsiderar a minha!
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