Quando um patético casal de mosquitos é capaz de colocar em xeque a sua sanidade, a única saída é admitir que você é mesmo um ser inferior e ponderar sobre a verdadeira necessidade da sua existência e sobre as soluções inefetivas que você dá aos problemas enfrentados no seu dia a dia.
Um mosquito entrou no meu quarto.
Pronto. A paz acabou. Está zigue-zagueando num
zumbido cômico-trágico frenético de eriçar pelos e fazer torcer nariz... pousa,
alça voo e repousa... Sobe e desce, sem rumo e sem expectativa de existência, sem
plano: são oito ou nove dias de vida? Sei lá! Pouquíssimo há de importar, na verdade. O certo é que as fêmeas duram um tanto mais, disso eu sei que sei... Receio que
tenha lido que algo em torno de trinta dias... Bem, ao que me consta, são elas que
nos picam: essas vacas! Ou “mosquitas”, como bem disse um dia (ou mais de um) a
nossa “presidenta” Dilma! Aliás, o que se faz nesse tempo, tão pouco tempo? Eu
respondo: perturbar pessoas, como a mim!
Agora, qual será a função do mosquito na natureza?
Em pouquíssimos instantes me debruço a pensar sobre
isso... Sério, perdi mesmo esse tempo! Desenvolvi inúmeras teses patéticas,
cada qual mais absurda que a outra, que acredito, nem os maiores biólogos da
história da humanidade seriam capazes de ponderar... E me senti apenas idiota. Um
idiota criativo, quando muito! Até procurei resposta naquelas publicações
famosas por responder às questões mais curiosas e inúteis da humanidade, tal
qual Mundo Estranho, Super Interessante, Galileu... e enfim, nada me aprouve.
O fato é que um mosquito não serve mesmo para nada.
É só pensar: não há que ser muito inteligente pra se chegar a essa conclusão.
Eles nascem larvas: e que coisa mais bizarra e vil poderia acontecer com a
existência de um ser? Ainda com tempo muito curto vão tomando a forma de seres bem
mais repugnantes, que apenas voam... Nem sei do que se alimentam... Se é que
alguém sabe! E nem quero saber! Vá lá, que me veio à cabeça que, bastante
possivelmente, de sangue, mas se os machos não te picam, do que então eles
vivem?
Afinal, do que vive um mosquito?
O mosquito é um ser que faz o Diabo feliz e esse há
de ser o seu único plano de vida: ser o bobo da corte do inferno mal representado
na Terra!
Bem, a graça acabou: estou sendo torturado. Picado
em todas as partes e visceralmente me coçando como se tivessem pó-de-mico na
ponta da “picadeira”! Isso é tão revoltante que levanto e vou pegar a raquete –
essa que nos faz seres infinitamente mais felizes quando os escutamos torrarem,
como bandidos da pior extirpe na cadeira elétrica... E antes que você pergunte:
Sim, eu sou a favor da cadeira elétrica!
Fui lá e voltei.
Agora estou com a bendita raquete na mão, atrás de
um maldito mosquito.
Descobri que são dois. Pulo da cama, volto... dou
meia-volta... Abaixo, levanto, subo, pulo de novo e torno a voltar para o outro
lado... ele só voa e some, aparece do nada e voa e some... e some... É um
pontinho mínimo acinzentado e quando dou por mim, percebo que estou apenas
míope: é apenas um mesmo! Ora, ou míope ou vesgo!? Não sei ao certo quanto a
isso, mas louco estou...
Acabo tirando a camisa... Já havia tirado o casaco.
Que calor! Lá fora deve fazer 16 graus quando muito e eu dentro de casa
desnudo... Trancado por causa de mosquitos e atrás de um mosquito... Cômico e
severo. A maldição é tanta que a essa hora só me coço e coço... Putz! Acabei de
encostar meu dedinho nessa maldita raquete! O que estou fazendo? Quero pegar
esse desgraçado e eu é que me dou choque!
As coisas não vão bem, percebi que ele foi parar embaixo
da cama!
Lógico, arriei. Com a lanterna do celular numa das
mãos e na outra, a raquete... De bruços, com metade do corpo e a cara sob a
cama. Achei! Lá está ele... Ao
lado de uma pequeníssima, finíssima teia de aranha... Uh, vai morrer!
Desgraçado: nunca desejei tanto a morte de um ser!
Ai! Cacete! Bati com a cabeça... Algo picou a minha
bunda. Tenho que ser forte... Não posso sair daqui antes de vê-lo morrer... Ele
vai morrer.
Ai! De novo... Putz! Saí correndo, rastejante como
o reles réptil vil que sou nesse peculiar momento... Retorno o olhar ao redor:
É outro! Eram mesmo dois... Ai, ai, ai... Não estou míope e nem vesgo, receio
que só louco.
Enquanto levanto a raquete para destroçá-lo, o
outro reaparece... Pleno e repugnante. Maldito ser inútil e sem alma! Não é
possível que ser tão esdrúxulo tenha alma, não é plausível! Não é possível que
pondere sobre algo! É, de certo, muito pior do que uma bactéria unicelular,
embora deva ter, sei lá, umas mil células, quando muito...
Corro... De um lado ao outro, com a raquete na
mão... Celular na outra... aaaaahhhhh!
Não! Que dor! Tropecei na quina da cama: quarto
pequeno! Isso é inacreditável... já faz quase meia hora que nada acontece na
minha vida a não ser correr atrás de dois temperamentais mosquitos... Não pode
ser!
Estou eu cá... A aranha pegou um deles!
Que gozo... Maldito, está preso! Sem ação... Nem se
debate. O ser é tão tinhoso que prestes a ser comido sequer esboça qualquer
reação ao ser envolvido por teias gosmentas. Cruzes! Estou feliz, estranhamente
realizado... E me coçando, muito... Acabo de arrancar um pedaço das minhas
costas e outro, da batata da perna! Maldição!
O outro ainda voa... Voa e voa... Se rindo de mim.
E se ri muito. É quase patético estar feliz, “coçante” e “semi-realizado” por
quase matar um mosquito, vê-lo ser pego por um ser com zilhões de vezes menos
inteligência que eu, e continuar correndo atrás de outro, que nem estava nas
previsões iniciais.
Ops! Agora percebi: o que foi pego foi o segundo
avistado... Percebi que o primeiro avistado tinha essas inconfundíveis
pintas brancas!
A busca continua! Maldito seja!
Tranquei a porta... Estou todo trancado!
Sem bermuda a essa altura... Suando tanto... Meu
deus, não é possível que eu não pegue um mosquito... Meu pensamento fala por
mim e é isso que vocês estão lendo. Uma dor de cabeça enorme e uma significativa
pressão em todo o lado direito do meu corpo já me consomem, juntamente ao ódio, limitando em certa medida meu raciocínio... Começo a alucinar!
Meu peito também está doendo... É tanta amargura e
tanta contrariedade por coisa tão mínima e tão obscenamente repugnante que
estou tendo uma compressão voraz no peito, de tanto desgosto por me sentir tão bosta
como ser humano nesse momento... Todavia, a despeito de lembrar das sábias
palavras do Professor Clóvis de Barros Filho - Você é um bosta! - haverei de continuar correndo... De um lado ao outro, com a raquete na mão e suando muito... A dor só aumenta... É lancinante!
O outro escapou! Como!?
Aaaaahahahahah!! Aaahahahahah!!! Meu deus!!! Meu
deus!!! Aaaaaaaaaahhhh!!
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