Quando o tempo é o maior empecilho à nossa
existência e a sua concepção inequívoca passa a ser um inimigo, o desafio é
subverter a sua lógica e encontrar soluções relativas para multiplicá-lo, compartilhando-o
com quem amamos.
Quem é o dono do tempo?
Tempo: Duração contínua das coisas no espaço no
qual os eventos se sucedem e que dentro de nós relativiza as concepções do
presente, passado e futuro, conforme a intuição peculiar de cada um. Deduz-se
dessa assertiva fundamental que o tempo só exista para nós porque sabemos
racionalizar e ordenar os acontecimentos, de modo que somos hábeis para
entender que um momento foi antes ou depois de outro e assim, inteiramente capazes cognitivamente de classificá-los, por sermos dotados do pleno intelecto
cronoespacial oriundo do gênero homo – talvez a única genialidade que nos
restou.
O tempo é o senhor da razão.
Não é assim que aprendemos desde sempre? Espetacularmente,
somos bem codificados pela extraordinária maravilha dos encontros cromossomiais
da seleção natural darwiniana, para que desde sempre nos venha já constando,
como primeira e indelével instrução genética, o famosíssimo “dê tempo ao
tempo”. Por assim, andamos depois de alguns meses, falamos um tanto depois. Há
de ser a nossa condição primordial de sobrevivência como espécie, o que nos
move a superar os batidos “tempos difíceis”, a ter a consagrada esperança na
expectativa.
Sim. Porque é sabido que expectativa só existe para
quem acredita que as coisas vão mudar para melhor, do contrário, ela é apenas premonição, angústia e desespero.
Agora, o que fazemos com o nosso tempo?
Em tempo, esse é o tempo de avistarmos novos tempos
sobre nós. Tempo de presenciarmos a mudança que nos constrói pela longevidade e
nos incita a sermos agentes do tempo, sujeitos ativos moldando o tempo que
caminha sobre nós no espaço em que nós caminhamos. Tempo de compreendermos que
é a atitude que nos afasta do paradoxo inexorável do tempo e não, a expectativa
de que as coisas vão caminhar, de um modo ou de outro, pelo bem ou pelo mal, e
vão. Assim, se pudermos fazê-las caminhar do nosso modo, o tempo terá uma
nova conotação: não será somente o espectro plasmático das nossas irrelevantes
omissões no decorrer disfuncional das nossas expectativas.
Então, a despeito de soar muito complexo, cotidianamente,
o tempo, apesar de ser conhecido como o senhor da razão, na verdade, é a
própria razão. E como sendo, na sua sublime cronologia, está submetido àquele
que racionaliza a tendência e a ela impõe caminho e precisão filosófica, ao que
dá sentido ao dilema Shakespeariano: “Ser ou não ser, eis a questão.”.
Estamos diante do fenômeno mais estupendo da nossa
existência: a descoberta do tempo como o nosso maior desafio filosófico, e não
mais, como o nosso maior empecilho natural: “Temos todo o tempo do mundo.“ e Renato
Russo não disse isso em vão. É certo que se referia ao fato de que o presente é
o mesmo para todos, ao fato de que ocorre simultaneamente, em todos os momentos
precisos para todos, na mesma absoluta capacidade de acontecer (verbo pessoal).
Então, se o tempo é comum, mas não é único, a sensibilidade da existência é
mais simples do que parece: vamos compartilhar o tempo.
Compartilhar o Tempo objeto-abstrato.
Te proponho um exercício filosófico.
Imagine o amor... por qualquer coisa. Como ele pode
ser medido? O amor se trata de uma experiência tão propriamente imersiva, tão
intimamente peculiar, que a sua mensuração é apenas uma especulação da
representatividade abstrata que terá para cada qual. Subjetivamente, o amor é impossível
de ser medido, não cabendo em espaço, e portanto, é inexorável quanto ao
sentido de tempo, considerando que coisas abstratas não acontecem.
Pois então, se o tempo existe nos acontecimentos
desenvolvidos no espaço, e sendo o tempo abstrato, porém, inversamente ao amor,
comum, mas não único, a dedução mais óbvia desemboca no fato de que tempo e
amor são fenômenos filosóficos complementares. Portanto, o amor não avança sobre
o tempo, porque o tempo não é possível sobre o amor, já que o tempo é comum e o amor é único.
Qual seria o tempo de amar? Sempre.
Você tem tempo para amar? Sempre.
Conclusivamente, amar é eterno porque proporciona a dois indivíduos
o tempo comum em que podem viver sentimentos únicos simultaneamente.
Por fim, amar subverte a lógica da racionalidade porque é
atemporal (eterno), multiplica o tempo por incapacidade cognitiva de medi-lo.
É tempo de compartilhar tempo, é tempo de amar.
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