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Escritor de verdade não escreve, é escrito.

Escrever é algo tão bonito, tão íntimo e transcendental, tão diferente de produzir livros, que se poderia dizer que o escritor não escreve, ele é escrito.


Nem todo mundo que escreve bem é um escritor.

Considere que não haja termo de comparação entre alguém que tenha escrito uma redação nota dez em um concurso público dificílimo com um gênio, como Machado de Assis ou José Saramago. Pois que escrever bem é algo muito antes, técnico, portanto, que se aprende e se desenvolve, algo que se alinha às regras, muito mais do que propriamente, visceral, ao passo que, de outro modo, a essência do escritor é justamente esse quê de genialidade que é transcendental e que prescinde à boa escrita: contar histórias que não pareçam histórias somente, mas que sejam contadas para muito além do apenas “escrever bem”.

É imprescindível notar que contar uma história apenas, qualquer um conta. Ainda que seja uma excelente história.

E por outro lado, o mesmo também poderia se aplicar quando fôssemos definir aquele que escreve mal. Por questões éticas, ninguém deve citá-los e acho que nesse ponto todos concordamos. Evidentemente, há excepcionais contadores de histórias no mercado literário, pessoas que contam histórias com genialidade absurda, mas que inadvertidamente não desenvolveram tanto o seu lado técnico. Não aprimoraram a sua escrita. Se você olhar com calma, perceberá que há mesmo muitos “best-sellers” com essas características, que se não os torna enfadonhos, os torna alvos de críticas cruéis.

Em tempo, para esses, ao menos, podemos bater palmas... Alguns deles estão até mesmo na Academia Brasileira de Letras - provas inconfundíveis de que boas histórias são tão importantes e nada efêmeras quanto boa escrita. Além do mais, ainda que esses autores escrevam de forma duvidosa, são eles mesmos, os próprios, que escrevem seus livros (quero crer), o que me leva a concluir que o espaço literário não existe somente para os arautos da gramática, como também, para aqueles que tenham boas experiências e ideias fantásticas para compartilhar. Afinal, se há quem lhes leia, haverá quem lhes publique. Nada, absolutamente, contra.


Ocorre que, ultimamente, uma chaga tem tomado conta do meio literário e se apoderado dele: tem-se visto com bastante frequência pessoas que mal leem (que não gostam sequer de ler), se aventurando em escrever com intuito meramente comercial, pessoas que povoam os “whattpads” e “amazons” com seus livros muito mal escritos e de péssimo gosto, com histórias vazias e desinteressantes, enfadonhas, e os vendem sem qualquer pudor, como as nudezes de desconhecidos vazam na internet e ninguém dá muita bola. Infelizmente, essas pessoas estão tomando conta desses ambientes e criando uma série de novos modelos literários de qualidade insustentável, difundindo-os e propagando a escrita assimétrica, formando futuros leitores ruins, que não saberão discernir entre a boa obra e a obra fabricada.

Inadvertidamente, em algum momento, o leitor foi idiotizado e esse processo é contínuo, descabido e irrefreável.

A conclusão é de que, não à toa, surgiu muito fortemente no mercado literário dos últimos tempos a figura dos “Ghostwriters”: pessoas que ganham a vida escrevendo anonimamente histórias geniais de escritores em potencial, que apesar de grandes contadores de situações cotidianas, não têm capacidade literária para desenvolverem o seu próprio livro, mas detêm histórias demasiado mirabolantes e que interessam às editoras pela criatividade aflorada, ou por serem “apenas” pessoas muito conhecidas em outras mídias ou de outras áreas artísticas.

Aliás, tem corrido à boca pequena que muitos escritores famosos têm se valido ou já se valeram desse tipo de “trapaça” literária, inclusive, um que é um dos maiores vendedores de livros de terror de todos os tempos. Esse, no entanto, mais pelo aspecto produtivo da coisa, no intuito de atender à demanda potencial do seu nicho de mercado, do que propriamente por escrever mal. Isso já foi amplamente divulgado por vários veículos: estamos falando do Stephen King.

É sabido que o gênio do terror mantém uma série de ótimos escritores contratados para exercerem o papel de digitadores de suas obras, que ele roteiriza e divide em capítulos e lhes dá, sob a incumbência de desenvolverem, na forma que ele, o mestre, determina.

A pergunta que sempre deixo no ar é: até que ponto o mercado literário pretende ir com essas novas modalidades de produção literária e comercialização das obras?


Primeiro, os escritores de verdade. Gente que escreve muitíssimo bem, com talento reconhecido para contar histórias e para desenvolvê-las; depois, pessoas que dominam razoavelmente a escrita e tem potencial nicho de venda, por serem amplamente conhecidas de outras áreas artísticas, que têm boas histórias para contar, mas não sabem exatamente como contá-las por escrito; por óbvio, nessa onda da segunda leva, surgem os ótimos escritores sem histórias, que são incumbidos de contarem as histórias dessas pessoas sem conhecimentos literários adequados; e por fim, em meio a todo esse turbilhão mercadológico, os péssimos, aqueles que não sabem escrever e nem contar histórias, mas que aporrinham os meios de venda, dada a facilidade atual em publicar as suas próprias obras.

É de se notar, por fim, que a forma de vender livros mudou muito. Hoje, as obras são virtuais em um enorme percentual e isso facilitou muito a maneira de divulgá-las, de modo que, como não há praticamente nenhum dispêndio financeiro das editoras com a produção, o surgimento de talentos foi facilitado na mesma medida em que a ascensão dos medíocres. Enfim, problemas oriundos do consumo exacerbado que desembocam, sobremaneira, na necessária produção excessiva. Típica relação capitalista atingindo agora a única coisa romântica da vida material que restava intacta: produção de livros.

Fique sabendo que as pessoas que mais vendem livros no momento não são os escritores.

Então, se você é um escritor, se prepare: o mercado não foi feito para você.

Pense bem se ama o que faz e escreva somente porque ama.

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